O soco nos testículos e o perdão

Zé Vieira, Miguelzão e o prefeito Lisboa

As cenas que temos visto nos últimos dias, protagonizadas na casa do deputado federal Zé Vieira, tem mechido com toda a população. Os posts de dois almoços reunindo o grupo do prefeito Lisboa, renderam dezenas de comentários.

O que poderiam ser cenas dignas de elogios se converteram em motivo de repúdio das centenas de leitores. É necessário que os homens façam as pazes, que se entendam sempre. Mas o problema não é bem esse.

Ao longo do tempo, os políticos tem adotado táticas e técnicas erradas. Nas disputas políticias, não discutem projetos de governo, há o embate de pessoas. As pessoas são incentivadas a se posicionarem a favor de homens e não de idéias.

Paulo Campos cumprimenta alegremente o Prefeito

Muitas pessoas, dependentes dos seus empregos que, só serão preservados se o patrão vencer a eleição, lançam mão de todos os recursos para defender o seu quinhão. No período eleitoral criam-se verdadeiras milícias. Cada candidato com a sua. Amizades são assassinadas em nome do líder político. Laços fraternos até mesmo entre parentes são desfeitos.

Os mais empolgados no mister de defender os políticos são os profissionais de Imprensa. Poucos escapam do redemoinho que suga a sensatez. Como exemplo, cito o episódio do dia 7 de fevereiro de 2011, quando o deputado federal Zé Vieira através da sua emissora de TV – a Mearim – baixou o sarrafo, como usamos na linguagem de Imprensa, no secretário de Administração Junior do Saae. O homem foi taxado de tudo, até de alcoólatra.

Evandro do Bosque Aracati, posa com Zé Vieira,
ao lado de Leão e Gilberto Lacerda

No dia seguinte, os assessores do Prefeito Lisboa, vermelhos de cólera, estavam na outra TV, a Difusora, armados com todas as armas para defender Júnior do Saae. O interessante nesses episódios é que os asseclas realmente sentem as dores do ofendido. É como se alguém que, tendo sofrido um soco nos testículos (os homens sabem bem como é terrível) tivesse a sua dor transferida para outros. A lacinante dor passa a ser sentida pelos assessores.

É impressionante ver como nesses momentos as pessoas se colocam realmente como inimigas umas das outras. Os blocos de seguidores do ofensor e do ofendido passam a discutir nos senadinhos com uma veemência que poderia ser bem mais útil se estivessem a debater a falta de médicos especialistas, a fome que assola a periferia ou a falta de emprego.

Lisboa abraça professora Margarida

Nesses casos, há uma indignação. Todos se indignam, mesmo quando que o episódio esteja revestido de traços de verdade. Isso não importa, o que tem importância mesmo é combater o outro político. Tamanha indignação seria bem mais frutífera se fosse verificada em razão do problema da Saúde, da transparência na Administraçao, da falta de atendimento aos viciados, da 'praça do crack' no terminal rodoviário.

Hoje vemos tudo isso superado pelos dois protagonistas do episódio de 7 de fevereiro. Nem precisou muito tempo. Ainda no mesmo ano civil do ocorrido, estão abraçados a contemplar com desdém o séquito daqueles que tanto se indignaram.

A história está pontilhada desses casos. Lamentavelmente não são aproveitados como exemplos. O que dizer de Taugi e Lisboa?

Os irmão Rogério Santos e Carlos Jorge, junto com o
deputado Zé Vieira e o Prefeito Lisboa

A aliança que temos visto envolve muitas pessoas. São seres que já se atacaram por meio de palavras e muitos quase foram às vias de fato. Teriam se perdoado? Não há que se falar de perdão nesse episódio. Perdão é algo incondicional, não está atrelado a vantagens, a conveniências. O perdão é a manifestação de amor. Não se pede nada em troca para poder perdoar alguém.

E quem pediu para quem? Eu não sei. A mim não cabe julgar se o que temos visto é certo ou errado. Tenho me abstido de publicar minhas opiniões. Sou um contador de histórias para que o povo julgue. Acho que já se conduziu muito esse novo povo pelo cabresto, é hora de que cada um veja e forma sua própria opinião.

Lilio Guêga, Secretário de Saúde

Opinião formada serve para que mesmo? Serve para por em prática no dia-a-dia, caro leitor. Serve principalmente para por em prática no dia de um evento muito importante chamado eleição.

Repito o que já escrevi em outra oportunidade: Quando vemos episódios como esses, não há como nos furtamos à surpresa. Do impacto inicial nasce a dúvida sobre os interesses que levam políticos a mudarem de idéia da noite pro dia em relação aos adversários, enquanto o panorama administrativo e o cenário social continuam os mesmos. Pergunta-se: o que estão ganhando com isso?