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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

"Não dá para julgar mulheres que apanham"

Getty Images
Do: site Delas

Francinelli Lira, de 29 anos, escapou da morte e seus agressores estão presos. O marido e a sogra planejaram assassinar a recepcionista por acharem que o filho que ela esperava era de outro homem. Após ser atingida por três balas, sendo uma disparada propositalmente na barriga pela aposentada Elza Maria da Costa Neves, de 58 anos, Francinelli, mãe de outros dois filhos do mesmo pai, bateu o carro em uma carreta tentando se salvar.
Quando chegou ao hospital, com sorte viu seu bebê de quatro meses ser salvo e denunciou o próprio marido e a mãe dele. Ao deixar a UTI, cinco dias depois, respirou aliviada por saber que os dois já estavam atrás das grades. “Espero que fiquem lá por muito tempo. O suficiente para as crianças crescerem e não terem contato com eles ainda pequenos”.
Francinelli escapou de uma estatística que estimou, entre 2009 e 2011, 5,82 óbitos para cada 100 mil mulheres. "Em média ocorrem 5.664 mortes de mulheres por causas violentas a cada ano, 472 a cada mês, 15,52 a cada dia, ou uma a cada hora e meia”, relata o estudo “Violência Contra a Mulher: Feminicídios no Brasil”, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no último mês.
Segundo a pesquisa, a Lei Maria da Penha não conseguiu reduzir as mortes em decorrência de violência doméstica. Dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde apontam que houve uma pequena queda na taxa em 2007, logo após a vigência da lei, mas depois o número voltou a crescer.
Silêncio

Não foi a primeira vez que Emerson Rogério Neves, 40, tentou matar Francinelli. Agressões físicas eram frequentes. “Ele tentava me estrangular e me dava murros na cara”, conta. Foram abertos três boletins de ocorrências por causa dos abusos do caminhoneiro. Todos posteriormente retirados por causa de ameaças. “Ele precisava ter o nome limpo para arranjar emprego. Retirei as queixas por essa razão”.
Presidente da Associação Brasileira de Defesa da Mulher, da Infância e da Juventude (ABRASD) e membro do Conselho Estadual da Condição Feminina, a advogada Dalila Figueiredo afirma que não dá para julgar as atitudes de mulheres que apanham e sofrem abuso de seus companheiros. Ao longo de seus 17 anos de trabalho com as vítimas, percebeu que cada uma tem seu tempo para tomar decisões.
O silêncio pode ser o pior inimigo em casos de violência doméstica, pois faz com que as agressões se repitam. Por isso o enfrentamento da violência é necessário, conforme consta do artigo 226 da Constituição Federal.
Mas, na prática, nem sempre é o que acontece. “Elas têm medo de denunciar o marido por causa de dinheiro. Ou sentem-se indefesas e fracas diante das ameaças dos homens, calando-se e deixando a situação de lado”, diz Angelo Carbone, advogado de Francinelli e autor do “Manual das Mulheres”, uma cartilha que ensina os direitos de quem sofre violência e está disponível gratuitamente na internet.


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