Com todo o gás | Blog do Louremar

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Com todo o gás

O empresário e produtor cultural Renato Dionísio analisa a história da descoberta do gás natural no Maranhão.

"Leio pelos jornais o anúncio da descoberta da maior reserva de gás natural já encontrada em nosso país. Segundo dizem, maior que a metade de toda a reserva conhecida da Bolívia, tesouro esse capaz de colocar nosso país como expressão mundial em produção gasosa.

A simples publicação do fato, com certeza, cria uma expectativa positiva no seio da comunidade maranhense, produz uma atmosfera de otimismo e confiança nas possibilidades do futuro de nosso Estado e projeta, em conseqüência, desdobramentos alvissareiros para nossa gente.

Disso se aproveita a atual ocupante do Governo do Estado, Roseana Sarney, para, no bojo do anúncio, turbinar sua candidatura para permanecer onde está. Tal descoberta coube à empresa OGX, braço do grupo EBX, para exploração de petróleo no Maranhão. Pertence ao dono da maior fortuna do país, senhor Eike Batista. Ele tem investimentos em várias áreas, quase todos, no entanto, fruto de concessões públicas, fato que, para alguns, é suficiente para colocá-lo em suspeição.

Confesso não conhecer a tradição empresarial de Eike Batista, a não ser o fato de que é filho do ex-ministro Eliezer Batista que “serviu” ao país no governo de José Sarney. Desta forma, não se constitui nenhum absurdo supor ser ele amigo do representante do braço empresarial da oligarquia Sarney, Fernando Sarney, e manter com este relações comerciais.

Assim, fiquei impactado ao ler a “Coluna do Sarney”, publicado no jornal do senador de domingo último, 15. Diz que “quando presidente [85/90], mandei fazer pela geofísica da Petrobras….descobrimos a gigantesca bacia…a Petrobras abriu um poço… na mesma área…reserva de gás natural…mais da metade das reservas da Bolívia. A atual descoberta está justamente a 200 metros de distância do poço perfurado durante o meu governo”.

Ainda do mesmo artigo: “Nesta quinta feira, dia 12 de agosto, eu chorei quando Eike Batista me telefonou, às oito e meia da manhã, dizendo que encontraraa imensa reserva de gás com a qual eu sonhara e profeticamente buscava sempre.” Tocado por estas afirmativas, passo a comentá-las, sem precisar pedir perdão ao senador, pois minha intenção e tão somente esclarecer.

Devo perguntar: Se este achado era de domínio de todo corpo diretivo da Petrobras ou foi cuidadosamente guardado? Se era de domínio coletivo, por que demorar duas décadas para sua exploração? E por que a própria companhia não se incumbiu de tão nobre tarefa? Quando da venda desse lote para prospecção e exploração, nossa petrolífera cobrou um adicional por conta destas informações e estudos?

Nessa mesma linha de conduta, a atual gestora estadual se apressou a informar que, sendo também visionária, tão logo assumiu – no período 95/98 – , mandou para nossa Assembléia Legislativa projeto de lei propondo a criação da Companhia Maranhense de Gás – Gasmar, talvez conhecendo as informações ora divulgadas por seu pai ou, quem sabe, vazadas da própria Petrobras.

Para não esquecer nunca! O mega investidor abriu o mapa do Maranhão – a Wikipédia não vale – e descobre, num passe de mágica, ou mesmo por pura premonição, nossa relegada Capinzal do Norte. Mais que isso: consegue a proeza de perfurar um poço, a exatos 200 metros de outro ali aberto, muitos anos antes. Seria isso fruto do “imenso carinho” que o mega-investidor já devota aos mais de seis milhões de viventes deste “pobre” Maranhão?

Claro que não. Eike Batista não deu um tiro no escuro, ao “adotar” Capinzal do Norte para suas “pesquisas”. Informações privilegiadas, principalmente no setor petrolífero, custam muito caro. As cifras passam quase sempre dos milhões, bilhões de dólares. Sarney parece agir como aquele menino que não agüenta segurar a língua quando encontra alguma cédula perdida no caminho e fica com ela. Claro que, há muito, como ele mesmo confessa, sabia que Capinzal repousava sobre uma imensa fortuna. Só não se sabe é a quem (ou se) confessou o seu achado.

Se o Brasil fosse um país sério, essa história mal contada de Sarney bateria na Polícia Federal. Que deveria apurar se o poço de Sarney fica a apenas 200 metros do de Eike Batista ou se é um poço só. Um poço sem fundo. Que o maior coronel da política brasileira ainda em atividade no Brasil deseja transformar em votos para a filha, tentando, com isso, dar sobrevida aos sues tentáculos.

Vivêssemos num país sério, repetimos, nosso “dileto” senador haveria de se manifestar em comissão de inquérito, para esclarecer as dúvidas deixadas em seu artigo. As confissões ali registradas, não podem passar ao largo do julgamento ético e moral da sociedade. Da mesma forma, e no mesmo diapasão, as manifestações da atual ocupante dos Leões deveriam ser analisadas e criteriosamente julgadas pela Justiça Eleitoral do Maranhão, por se constituírem em crime eleitoral.

Por fim, roguemos que, mais uma vez, os desmandos políticos e administrativos dessa família não fiquem impunes. Ou se queimem, agora, em gigantescas labaredas provocadas pelas famosas reservas de gás de Capinzal do Norte.

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