A vida à espera de uma boquinha | Blog do Louremar

sábado, 23 de abril de 2011

A vida à espera de uma boquinha

Da: Revista Época

Altemir Gregolin (PT) deixou o cargo de ministro da Pesca e Aquicultura em janeiro. Em vez de voltar a seu Estado, Santa Catarina, perambula por Brasília. Gregolin visita gabinetes e, nas muitas horas vagas, passeia pela cidade. Como Gregolin, Marcos Lima (PMDB-MG) não sai de Brasília. Ele não conseguiu se reeleger deputado federal, mas frequenta o Congresso toda semana, como se nada tivesse mudado. Lima e Gregolin estão, assim, meio à deriva, por causa da dinâmica eleitoral. Eles estão numa fila de desempregados de luxo, formada por políticos que esperam por um cargo no governo federal. Filas assim se formam a cada quatro anos com políticos que perdem eleições, deixam cargos por mudanças de governo ou não encontram padrinhos com força suficiente para encaixá-los em novas funções. Para sair dela, Gregolin já tentou – sem sucesso – sua indicação para quatro postos. Lima está à espera do cobiçado cargo de diretor de Furnas, a estatal do setor elétrico com R$ 1,3 bilhão para investir.

Ao contrário dos desempregados comuns, Lima e Gregolin têm um privilégio. Eles figuram na lista de nomes indicados por PT e PMDB – os dois maiores partidos governistas – para ocupar um emprego público em retribuição ao apoio à eleição da presidente Dilma Rousseff (leia os principais nomes da fila no quadro abaixo). Na semana passada, um almoço do vice-presidente, Michel Temer, com os ministros da Casa Civil, Antonio Palocci, e das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, serviu para mais uma rodada da infindável negociação entre o governo e o PMDB para preencher cargos no segundo escalão. Participaram do almoço o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), e o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

Escalado pela presidente Dilma para a função de analisar as indicações, Palocci, desde o início do ano, recebe pedidos de emprego de PT, PMDB e de outros oito partidos da base governista no Congresso. Nas reuniões, Palocci ouve com atenção, infla o visitante com elogios e, no final, adia a decisão. Seus interlocutores rebatem com o método da confusão e da insistência. Em geral, pedem cargos para seus protegidos e depois citam o caso de colegas de partido que estariam insatisfeitos e poderiam criar dificuldades para o governo caso não sejam contemplados. Os políticos fazem pressão porque estão em jogo cerca de 22 mil cargos que a Presidência pode preencher sem concurso. A maioria desses milhares de cargos é de menor expressão. A briga é pelas posições de destaque que proporcionam o que os políticos querem: capacidade de exercer o poder e, principalmente, administrar grandes orçamentos.

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