Do O Globo, por Evandro Éboli
A intromissão do regime militar no futebol não se restringiu à exploração
ufanista do desempenho da seleção tricampeã na Copa de 70. Durante a ditadura,
até mesmo jogador de futebol era perseguido pelos agentes da repressão.
Foi o caso de Fernando Antunes Coimbra - um dos irmãos de Zico -, que teve
sua carreira de atleta interrompida de forma prematura, no início da década de
1970, por ser considerado comunista. Nando, como é conhecido, foi o primeiro
ex-jogador de futebol a ser anistiado pelo governo e indenizado.
O rótulo de "subversivo" não interferiu apenas na carreira de
Nando, mas também na de seus irmãos. Segundo a família, Edu deixou de ser
convocado para a seleção de 70 por ser irmão de um perseguido político. E Zico,
pela mesma razão, foi esquecido da seleção olímpica que foi a Munique
(Alemanha), em 1972, e que ajudou a classificar no Pré-Olímpico de 1971, na
Colômbia. Sua não convocação quase o fez abandonar o futebol.
A carreira de Nando no futebol durou menos de seis anos, entre 1966 e 1972.
Ele saltava de um clube para outro após intervenção de agentes do governo e era
excluído dos times sem qualquer explicação dos dirigentes. Nando começou no
juvenil do Fluminense e, como profissional, atuou no Santos (do Espírito
Santo), América (RJ), Madureira, Ceará, Belenenses e Gil Vicente. Esses dois
últimos, clubes de Portugal.
O jogador foi perseguido até mesmo no exterior. Quando se transferiu para o
Belenenses, em 1968, foi procurado e interrogado em um hotel de Lisboa por dois
agentes da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), do ditador
Salazar. Preferiu voltar ao Brasil sem ter feito uma partida sequer pelo time.
- Tinha 22 anos e chegaram dois caras de terno, sabendo tudo da minha vida. Fiquei desesperado, chorei um monte e consegui voltar para o Brasil - contou Nando.
- Tinha 22 anos e chegaram dois caras de terno, sabendo tudo da minha vida. Fiquei desesperado, chorei um monte e consegui voltar para o Brasil - contou Nando.
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