Atire a primeira pedra
Vamos deixar de hipocrisia: claro que o deputado
federal Marco Feliciano é um sujeito horroroso, que já deu declarações racistas
e é processado no Supremo por estelionato. Mas não chegou sozinho à presidência
da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Teve ajuda de
governistas e oposicionistas.
A bancada do PSC é
composta por 15 parlamentares e, portanto, não teria direito a vaga nenhuma na
Comissão. Mas, numa Câmara como a nossa, cinco partidos se juntaram para
quebrar o galho da legenda nanica de Feliciano. Funcionou assim: o PT da presidente Dilma, que sempre
ocupou a presidência da Comissão, resolveu trocar este cargo por outro; o PMDBdo vice-presidente
Michel Temer cedeu ao PSC duas vagas de
titular e duas de suplente; oPSDB, que comanda a
oposição (sim, formalmente existe um grupo que se intitula
"oposição") cedeu duas vagas de titular; o PP de Paulo Maluf (que apoia a
presidente Dilma) cedeu uma de titular; e o PTB, o mais coerente
dos partidos, já que apoia quem quer que esteja no Governo, cedeu uma de
suplente. Com isso o PSC teve a possibilidade de eleger o inacreditável Marco
Feliciano presidente da Comissão.
Processo por
estelionato, processo por homofobia, ambos no Supremo, enviados pelo
procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Um vídeo notável, em que, como
pastor, reclama do fiel que lhe deu o cartão de crédito sem a senha:
E ele ganhou o
cargo assim mesmo. Mas lembremos: ele foi eleito pelo voto direto e secreto,
por eleitores como nós.
O profeta do Norte
O grande escritor americano Mark Twain escrevia sobre os EUA, mas certamente não permitia que seus pensamentos fossem limitados por fronteiras nacionais.
É dele a frase:
"Temos o melhor Congresso que o dinheiro pode
comprar".
Bons companheiros
Pensando bem, é injusto falar mal de Marco Feliciano apenas porque disse que os descendentes de africanos são amaldiçoados, porque disse que quem dá poucos donativos à sua igreja terá pouca retribuição do Senhor, pelas acusações (que o Supremo examina) de homofobia e estelionato. Num local onde a folha corrida substitui o currículo, que se poderia esperar? Vejamos outras Comissões da Câmara Federal. Para Constituição e Justiça, foram escolhidos dois condenados no caso do Mensalão, João Paulo Cunha e José Genoíno, ambos do PT. Um dos suplentes é José Guimarães, também do PT - aquele cujo assessor foi preso no aeroporto transportando cem mil dólares na cueca. Finanças e Tributação: presidente, João Magalhães, PMDB, da Operação João de Barro. Veja no Google "João Magalhães", "Operação João de Barro", com 27 mil citações.
O presidente da Comissão de Meio-Ambiente é o senador Blairo Maggi, do PR. Grande agricultor, seus interesses podem conflitar com a defesa do meio-ambiente.
Mas quem está preocupado em pelo menos guardar as aparências?
O mundo...
O deputado Gabriel Chalita, PMDB (ex-PSDB, ex-PSB), está sendo
investigado sob a acusação de receber propinas na época em que foi secretário
da Educação de São Paulo, entre 2002 e 2006. Foram propostos onze inquéritos,
nove dos quais rejeitados pelo Conselho Superior do Ministério Público; dois
prosseguem.
Mas um fato vem sendo esquecido: Chalita era secretário e homem de confiança do
governador tucano Geraldo Alckmin. Que tem o governador a dizer sobre o caso?
Que não sabia de nada, não pode: essa desculpa já tem dono.
...em que vivemos
O vereador e coronel Paulo Lucinda Telhada, PSDB,
emprega em seu gabinete na Câmara Municipal de São Paulo dois assessores que
contribuíram para sua campanha - um, Antônio José Fonseca da Silva, doou cerca
de R$ 40 mil (seu salário, como assessor, é de R$ 21 mil mensais); Rodolfo
Artur Teixeira Vieira doou aproximadamente R$ 19 mil, e seu salário é de R$ 18
mil. Lucinda Telhada contratou também seu primo David Denis Lobão para a
assessoria (nada disso é ilegal - mas indica seu critério de fazer política).
Lucinda Telhada comandou a Rota, a mortífera tropa de choque da Polícia Militar
paulista. Mantém na Câmara seu estilo imperial: "Isso é uma coisa minha,
eu não tenho que dar satisfação a ninguém". E disse à repórter Lúcia
Rodrigues, da Rádio Brasil Atual, que ela deveria tomar cuidado.
Deveria mesmo: logo depois ela perdeu o emprego.
Calma no Brasil
A movimentação em torno do ministro Joaquim Barbosa está começando a ficar
engraçada. Um jornalista o chama de "maior brasileiro de todos os
tempos", pipocam em Câmaras Municipais os projetos para conceder-lhe
cidadania honorária, há políticos que sonham com sua candidatura à Presidência
da República.
Como diria um importante político brasileiro, menas, menas. Barbosa pode até
ser picado pela mosca azul, mas até agora não deu o menor indício de que queira
ser candidato. Se decidir candidatar-se, numa campanha seu estilo irascível
pode até funcionar (com Jânio Quadros funcionou, mas Jânio era um político
incomum), mas é mais provável que o torne impopular. E o saber jurídico não é
suficiente nem para eleger-se nem para governar. Talvez seja uma revelação; mas
é apenas um talvez.
Muito Bom,informações importantíssimas.Esse Marco Feliciano,sei não...Parabéns Deputado Domingos Dutra,que conduziu bem a Comissão,durante sua presidência.(Darlan Caldas)
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