O tempo fora de tempo
Diz o Eclesiastes, um dos livros da Bíblia, que há
um tempo para tudo, um tempo para tudo o que ocorre. Há, pois, que ter o tempo
como aliado; e saber quando a hora não chegou. E, quando não for o tempo, adiar
o que se deseja.
É justo ou não o pedido do ministro Joaquim
Barbosa de aumento de salários no STF? Pode ser; mas não é hora de elevar agora
o salário do STF para mais de R$ 30 mil, quando o salário mínimo talvez vá para
R$ 722, e só no ano que vem. É correto manter o mandato do deputado federal Natan
Donadon, do PMDB, preso por corrupção? Este colunista acha que não, a Câmara
acha que sim; mas não é hora de criar a figura jurídica do deputado sem
direitos políticos, que não pode votar nem ser votado, nem comparecer às
sessões, mas continua deputado.
Não é o tempo certo para que a cúpula do país faça
reivindicações, por justas que lhe pareçam. Multidões foram às ruas pedir
seriedade na administração pública. Não é o tempo certo para que o governador
do Ceará, do PSB, compre quatro helicópteros sem licitação e contrate bufês
suntuosos para servi-lo; nem para que o senador Cássio Cunha Lima, do PSDB,
arranje emprego público para a namorada, a sogra e o cunhado; nem para que o
governador gaúcho, do PT, gaste R$ 400 mil do Tesouro para avaliar se o jornal Zero Hora o trata com imparcialidade; nem para
que o governador do Piauí, do PSB, queira pagar seu hidratante, xampu reparador
e gel esfoliante com dinheiro público. Puro deboche.
Parafraseando o Eclesiastes, que proveito tirou o
povo de suas manifestações?
Um grande historiador, Capistrano de Abreu
(1853-1927) dizia que a nossa Constituição deveria ter apenas dois artigos:
"1 - Todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara. 2 - Revogam-se
as disposições em contrário".
O caminho das pedras
Em duas semanas, dois jogos em Brasília, com times
de fora, e duas grandes brigas no Estádio Mané Garrincha. Um torcedor do
Flamengo foi seriamente machucado por são-paulinos; corinthianos e vascaínos
brigaram a pauladas, ignorando a Polícia. Três dos brigões corinthianos estavam
entre os detidos em Oruro, após a morte do garoto boliviano Kevin Strada.
Fala-se em proibir as torcidas organizadas, mas isso não funciona: basta que
troquem de nome, e pronto.
No caso Watergate, a principal fonte dos
jornalistas que revelaram o escândalo repetia sempre um lema: "Sigam o
dinheiro". O que se tem de fazer no futebol é buscar o caminho do
dinheiro. Como puderam os briguentos ir a Oruro, viajar de avião a Brasília,
comprar os caros ingressos, fora outras despesas? Os que ficaram detidos em
Oruro por vários meses certamente perderam o emprego. Quem paga suas viagens?
Achando-se a resposta, as brigas acabam na hora.
Dúvida pertinente
Uma pergunta: que significa "rigoroso
inquérito"? Há inquéritos dignos desse nome que não sejam rigorosos? A
propósito, já existe algum resultado do "rigoroso inquérito" sobre as
denúncias da Siemens a respeito do cartel nos fornecimentos para trens urbanos
e Metrô em São Paulo, que conforme as denúncias funcionaria desde o Governo
Mário Covas, o primeiro da atual dinastia do PSDB?
Há gente daquela época até hoje ocupando cargos
importantes, e seria de seu interesse que tudo fosse logo esclarecido, para
afastar qualquer suspeita.
A fila anda
É bom que o "rigoroso inquérito" sobre o
cartel em São Paulo ande logo, porque parece que há mais coisas rolando. Existe
quem fale em problemas em outros Estados, em fornecimentos para usinas e trens
de passageiros regionais.
Está em pleno desenvolvimento o esforço governista
de demonização do senador boliviano Roger Pinto (foto) , que ficou 455 dias isolado num
quarto da Embaixada brasileira em La Paz e fugiu para o Brasil com auxílio do
diplomata Eduardo Saboia. Todas as acusações que o Governo boliviano fez contra
ele foram descartadas pelo Governo brasileiro, ao conceder-lhe asilo; mas agora
são utilizadas como se fossem verdadeiras e comprovadas.
Veja o que diz José Dirceu - o próprio - em seu
blog: "Molina, que deveria estar cumprindo pena (...)"
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