Da BBC Brasil
O povo Bajau, também conhecido como "ciganos do mar", tem pescadores que conseguem mergulhar a 20 metros de profundidade e ficar até cinco minutos sem respirar, enquanto a maioria das pessoas precisa de ar após 30 ou 40 segundos.
Os Bajau vivem no sudeste asiático, em barcos ou palafitas acima da água do mar. Tradicionalmente, eles nascem, vivem e morrem no mar, o que lhes rendeu a fama de mergulhadores natos.
Uma equipe do programa Human Planet (Planeta Humano) da BBC registrou, na costa de Sabah, em Bornéu, os mergulhos nos quais os únicos "equipamentos" são óculos de madeira feitos à mão e um arpão.
"Eu foco minha mente na respiração. Eu só mergulho quando estou totalmente relaxado", diz o pescador Sulbin, que entra em um estado de transe antes da pescaria.
Controle mental
Segundo a instrutora de mergulho livre (realizado sem equipamentos, também conhecido como apneia) Emma Farrell, é preciso "estar aquecido e relaxado - você não quer hiperventilar antes de segurar a respiração".
O reflexo de mergulho, presente em animais aquáticos como golfinhos e lontras, e também em humanos em menor grau, ajuda no processo, de acordo com Farrell.
"(O reflexo de mergulho) É uma série de ajustes automáticos que fazemos quando ficamos submersos em água fria. Ele reduz o batimento cardíaco e o metabolismo para diminuir o uso de oxigênio."
Mas a prática é arriscada. Alguns Bajau morrem em consequência de problemas causados pelos mergulhos.
Visão submarina
Os Bajau passam tanto tempo no mar que muitos deles dizem ficar enjoados quando vão para terra firme.
Graças ao tempo passado na água desde a infância, quando seus olhos estão se desenvolvendo, os Bajau normalmente têm um visão extremamente boa debaixo d'água.
Seus músculos dos olhos se adaptaram para contrair mais as pupilas e mudar a forma do cristalino, aumentando a refração de luz.
A pesquisadora sueca Anna Gislen, da Universidade de Lund, comparou a visão subaquática de crianças de povos "ciganos do mar" de Mianmar e Tailândia com a de crianças europeias e descobriu que os povos do mar enxergam duas vezes melhor debaixo d'água, uma diferença que pode ser reduzida através de treinamento.
A magreza de Sulbin permite que ele ande sobre os corais. Foto: Timothy Allen/BBC |
Audição prejudicada
Uma parte do corpo dos Bajau que não se desenvolve tão bem são os tímpanos, que normalmente rompem bem cedo, segundo o diretor do programa da BBC, Tom Hugh-Jones.
"A audição de Sulbin é fraca porque ele não equaliza a pressão nos ouvidos quando mergulha. Ele nunca teve treinamento formal de mergulho. Ele aprendeu com o pai a segurar a respiração."
Segundo Hugh-Jones, há teorias evolucionárias polêmicas que dizem que um ancestral dos primeiros humanos teve de se adaptar a um ambiente parcialmente aquático.
A teoria do "macaco aquático" diz que é por isso que os humanos não têm muitos pelos e têm uma camada de gordura para manter a temperatura do corpo debaixo d'água. Também por isso os humanos seriam tão mais aptos a nadar que os macacos.
Mas Sulbin e outros pescadores Bajau têm pouquíssima gordura no corpo, algo que pode ser útil a eles.
Um corpo magro é mais eficiente no uso de oxigênio e boia menos, fazendo com que ele consiga andar sobre os corais com facilidade.
"Este tipo de mergulho livre - chegando repetidamente a profundidades como 10 ou 20 metros - aumenta o risco de problemas causados pela descompressão, mas você está mais protegido se é magro ou muito bem hidratado."
E surpreendentemente, Hugh-Jones diz que Sulbin fuma como uma chaminé.
"Ele diz que relaxa seu pulmão."
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