Coluna do Carlos Brickmann | Blog do Louremar

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Coluna do Carlos Brickmann

"Sangue nas mãos - e sangue mestiço"

Nélson Rodrigues não disse, mas poderia ter dito que todo fundamentalista é um idiota fundamental. "Fundamentalista" é palavra suficiente para informar que se trata de um idiota. O terrorista norueguês se define como "fundamentalista cristão". Trata-se de um cretino sanguinário; imagina-se um guerreiro, mas não passa de um terrorista assassino. E não sabe nem do que fala.

Diz o terrorista que é contra a mistura de raças. A ciência mostra que na população de homo-sapiens - o nome científico que nos cabe - só existe uma raça, a raça humana. Talvez queira protestar, em suas 1.500 páginas de bobagens, contra a mistura de etnias. Chegou tarde: hoje é consenso que todos os povos descendem de um grupo original nascido na África e que de lá se espalhou pelo mundo.

Os exames de DNA mitocondriais mostram que há uns dez mil anos os povos germânicos (hoje predominantes no Norte da Europa) e berberes (do Norte da África) tiveram alguma ligação. Na Guerra dos 30 Anos, ocorrida no século 17, houve grande migração de populações. Berlim, por exemplo, passou longo tempo ocupada por eslavos. Os magiares húngaros se uniram aos povos germânicos da Áustria (que, por sua vez, já se haviam mesclado com os celtas, moradores originais da Europa). Há alemães louros, alemães morenos. E, na própria Noruega, existe a Lapônia. Os lapões nada têm de germânicos ou vikings e sua língua apresenta parentesco com o basco, o húngaro, o finlandês.

O cretino fundamental critica o Brasil pela mestiçagem. Esquece dos EUA, tão mesclados quanto nós, cujo povo mestiço criou a maior potência do mundo.

Cá como lá

O terrorista norueguês certamente não conhece o Brasil. Acaba de ocorrer aqui um fato que tem tudo para alegrá-lo: a atriz Antônia Fontenelle, esposa de Marcos Paulo, diretor do filme Assalto ao Banco Central, reagiu a uma análise desfavorável do crítico Pablo Vilaça dizendo que ele "tem cara de cearense". Vilaça, do portal Cinema em Cena, respondeu educadamente, dizendo que é mineiro, mas teria imensa honra se fosse cearense. Tem gente que nasceu na época errada: Antônia Fontenelle, moça bonita, provavelmente boa atriz, casada com um artista talentoso, seria muito melhor sem Twitter e na época do cinema mudo.

Brasil de verdade

De um leitor do blog do Setti (http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/): "O deputado Valdemar Costa Neto está tão preocupado (com o escândalo da roubalheira no Ministério dos Transportes, do qual seria um dos principais cabeças) que acabo de vê-lo no Resort Hard Rock de Punta Cana, na República Dominicana!"

Setti acrescenta uma informação saborosíssima: "O leitor não esclareceu, mas entre as mordomias do hotel há um cassino".

Quem sabe, sabe

Erenice Guerra, que foi ministra da Casa Civil no Governo Lula (e caiu por denúncias de tráfico de influência), desistiu de processar a revista Veja, uma das que apontaram indícios de irregularidades em sua gestão. Segundo seu advogado, não há mais motivos para pedir espaço e contestar as reportagens da revista, quase um ano depois de publicadas.

As coisas mudam mas, no fundo, continuam iguais: antigamente, para dar uma satisfação à opinião pública, os ofendidos entravam na Justiça. E, para evitar o julgamento, entravam na Vara errada.

Quem manda ser brasileiro?

O presidente da Azaleia-Vulcabrás, Milton Cardoso, provou que a China faz triangulação ilegal para escapar dos impostos e colocar seus sapatos no Brasil, sem que nosso Governo combata a fraude. Está sujeito a processo - ele, que mostrou a fraude, e não quem desrespeita a lei. Cardoso registrou seis licenças falsas para importar calçados de uma falsa empresa do Vietnã, conta o bom colunista gaúcho Políbio Braga. Seu objetivo: provar que o Siscomex, que controla o comércio exterior, permitiria a compra.

O resultado é que a Polícia Federal vai investigá-lo. Não deveria: nunca quis beneficiar-se das falsas licenças. E escolheu um nome ótimo para a falsa empresa vietnamita, Pim En Tel Shoes Industries.

Pimentel (Fernando) é o ministro que deveria combater a fraude chinesa.

Dia de vergonha

Hoje, às 14h30, no Tribunal de Justiça de São Paulo, encontram-se alguns personagens de um acontecimento trágico: a prisão, tortura e morte do jornalista Luís Eduardo Merlino - amigo e companheiro de redação deste colunista. O réu é o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o "Major Tibiriçá", que por quatro anos comandou o Doi-Codi em São Paulo, um dos mais notórios centros de tortura do país. Na acusação, cinco ex-presos políticos; na defesa, um coronel e três generais (todos da reserva) e um civil em plena atividade: o presidente do Senado, José Sarney.

De certa forma, explica-se: era ele o presidente do partido da ditadura, a Arena. De certa forma, não se explica: poucas coisas são mais impossíveis do que testemunhar em favor de um cavalheiro já tão conhecido como Ustra.

Lembrai-vos de Bete Mendes

Ustra estava no Governo Sarney e foi reconhecido por Bete Mendes, numa viagem oficial, como torturador. Justo Sarney vai testemunhar em sua defesa?

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