A dor de
quando morre um filho é uma dor que não morre. É uma dor que nunca acaba.
Eu vi o
Flávio, irremediavelmente inconsolável, chorando a verdade da sua dor, diante
do filho morto, um garoto apenas recém-chegado à adolescência e ouvi o clérigo
sóbrio em sua fé, espargindo fé, sobrepairando palavras com dizeres de
conforto.
Dissertou
otimista sobre a imortalidade da alma. O que se pranteava ali, disse, era
apenas o corpo no qual até a véspera vivera o menino. Sua alma certamente
estava até ali também pranteando o corpo.
Consola,
sim. Mas não retira a dor.
A vida
sempre, em algum momento, já nos levou ou ainda nos levará a essa estação de
mistério. Por mais explicação que nos façam os filósofos ou as religiões, e
ultimamente a ciência, tudo não será o suficiente para se entender tudo.
Falo por
mim, é claro. Não vale querer entender tudo. Então, só nos restam a fé e sua
fonte de forças enormes e inesgotáveis que nos levam inclusive à remoção das
montanhas.
A fé em
si, por si, é um mistério e sendo um mistério, é logico, não tem explicação.
Mas será sempre um valor inestimável e renovável a nos inspirar e a nos impelir
nas sequencias desse difícil exercício de viver.
La vie
est injuste habitués à l’homme! – A vida é injusta, homem, acostume-se com ela.
Dizem os franceses.
Com
outros sons, em várias línguas, diz-se a mesma coisa. Sempre para lembrar o
quão de injustiças permeiam as entregas e renúncias no exercício de se seguir
corretamente a viagem da vida pela estrada e, ainda por cima, sobreviver.
A morte,
ao contrário, nos iguala. Impõe sempre a sua mesma e contundente lição de
humildade. Inevitável quanto a luz do sol no dia que amanhece, a morte nunca
falha quando entende chegada a data, a hora, a circunstancia, deixando a cada
um em atestado a sua desculpa.
Com
certeza, a vida não é justa quando um garoto como esse do Flávio começa a
despertar em seus sonhos, a se encantar com as alegrias da adolescência, a
conhecer a cartilha da vida ensinando-lhe o que é certo e bom e o que é ruim
porque é errado.
A vida ao
invés de expelir a alergia que colou no menino ainda na escola, não! Levou-o
passivamente ao hospital onde a dona morte, mais covardemente ainda, o
paralisou definitivamente.
Penso que
vem daí a logica do brocardo francês – La vie est injuste habitués à l’homme!
Quanto a
nós, o que nos cabe é trabalhar seriamente para que as injustiças da vida se
reduzam. Podemos contribuir para a redução das desigualdades, sim. Podemos até,
pelos avanços da ciência, retardarmos as incursões inevitáveis de dona morte.
Quando
meu pai morreu, eu estava longe, não deu tempo de vê-lo. Quando cheguei já
havia sido sepultado. Doeu.
Quando
minha mãe morreu, cheguei a tempo no velório. Doeu muito, muito mesmo.
Quando
morreu um filho, pude estar com ele assim, que nem o Flávio, até o ultimo
momento. Dói ainda hoje. É uma dor que nunca acaba.
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Publicado originalmente no blog Edsonvidigal.com. É um texto em referência ao falecimento do filho de Flávio Dino, presidente da Embratur.
força flávio dino.
ResponderExcluirO Maranhão está de LUTO, só a FORÇA divina dará conta do sofrimento de Sr. Flávio Dino, DEUS TE PROTEJA E FORÇA.
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