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Alojamento onde os trabalhadores dormiam amontoados em redes Foto:SRTE/MA |
Vitória é uma zebra rara: vive entre pessoas e tem
acesso livre à casa do seu dono, o fazendeiro Francisco Gil Alencar. Ele é
proprietário de um mini-zoológico em Santa Inês (MA) cujo nome lhe presta uma
homenagem: o "Gilrassic Park". Além de Vitória, o parque conta com
900 outros bichos de 100 espécies diferentes, principalmente aves e animais
silvestres, que recebem acompanhamento especializado de um zootecnista.
A pouco mais de cinco
quilômetros do Gilrassic Park, na mesma propriedade, a situação de 12
empregados de Francisco Gil era bem distinta: eles foram resgatados de
condições análogas às de escravo pelo grupo móvel de fiscalização da
Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Maranhão (SRTE/MA), em
inspeção no fim de março deste ano. A vistoria contou ainda com membros do
Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Os libertados trabalhavam sem
carteira assinada ou equipamentos de proteção individual (EPIs), fazendo o
roçado manual do pasto dos bois da Fazenda Coronel Gil Alencar, onde fica o
Gilrassic Park, em condições absolutamente subumanas e degradantes.
Segundo a SRTE/MA, o alojamento dos trabalhadores ficava no meio do mato, em
espaço geograficamente isolado e sem meio de transporte disponível. Para chegar
ao grupo de 12 escravos, a equipe percorreu uma longa trilha a pé a partir do
quilômetro 30 da rodovia BR-222, através de um matagal e de uma estrada
alagada. Eles vasculharam um extenso terreno de pastagem por cerca de duas
horas até encontrar o barraco onde estavam os empregados, nas margens de um
igarapé.
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Os alimentos para os animais eram bem guardados, como mostram as três fotos em cima. Na parte de baixo, são os alimentos dos trabalhadores armazenados em condições precárias. |
Enquanto os animais de Francisco Gil recebiam ração balanceada e supervisão
nutricional, os empregados sequer tinham proteína de carne em sua dieta. “Eles
estavam cozinhando de forma precária e irregular. A alimentação era baseada no
carboidrato, srrozó de a e feijão”, diz a auditora fiscal do trabalho
responsável por coordenar a inspeção, Márcia Albernaz Miranda.
Todo dia pela manhã, por volta das
6 horas, o grupo de trabalhadores recebia café e uma massa de farinha de milho
cozida pelo “gato”, supervisor dos empregados. Alguns deles comentaram com os
auditores que preferiam tomar só o café e trabalhar com fome até o almoço, tão
ruim era a mistura. Por volta das 11h, eles faziam uma pausa no serviço para
comer arroz e feijão – às vezes, só um ou outro. No final da tarde, depois de
um dia de trabalho sob o sol maranhense, recebiam mais uma porção da mesma
comida.
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