Por: Márlon Reis
Em evento realizado
ontem, numa universidade em Brasília, o ministro Joaquim Barbosa, presidente do
Supremo Tribunal Federal, fez uso da expressão “partidos de mentirinha” para
referir-se à notória debilidade dos partidos políticos brasileiros.
O Brasil realmente carece de uma experiência
partidária efetiva. A agremiação política é escolhida não por razões
programáticas, mas por cálculos pragmáticos que levam em conta quantos votos
serão necessários para ganhara eleição. As coligações, por decorrência, são
muitas vezes engendradas à base de acordos financeiros que têm por objeto a
ampliação do tempo de propaganda na televisão.
Um líder de bancada me disse certa vez, referindo-se à Câmara
dos Deputados: “Somos aqui 513 partidos partidos políticos”. Os eleitos possuem
de fato bases eleitorais próprias, amealham pessoalmente suas verbas de
campanha e concorrem com os próprios correligionários em busca do voto.
O sistema eleitoral e o modelo de financiamento de campanhas
vigentes são os maiores culpados por isso. Pequeno número de empresas privadas
domina o cenário das doações de campanha e os candidatos competem mais por seu
apoio que propriamente pelo voto.
O resultado disso é que temos uma democracia baseada em
partidos fracos, com pouca ênfase na identificação programática.
Nenhuma democracia se consolida sem uma clara definição entre
os seus partidos, o que demanda uma distinção entre os seus conteúdos baseada
em propostas para o país. Trata-se de evidenciar planos de governo, muito mais
que articular planos conquista do poder.
Há tempos a sociedade brasileira despertou
para essa necessidade. Em 1999 e em 2010 foram aprovadas duas leis de
iniciativa popular com o igual objetivo de qualificar a nossa democracia. A
primeira deu origem ao artigo 41-A da Lei das Eleições, que abriu a
oportunidade para a cassação de mandatos obtidos à base da compra de votos; a
segunda, conhecida como Lei da Ficha Limpa, aprimorou os critérios para a
definição das candidaturas, impedindo a participação eleitoral de pessoas
posicionadas em situação de risco para a lisura dos pleitos.
Agora essa mesma sociedade civil, articulada na rede
denominada Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral (MCCE), prepara-se para
lançar nas próximas semanas uma terceira e ainda mais profunda iniciativa. O
objetivo será a superação das doações empresariais e a mudança do sistema
eleitoral com vista ao fortalecimento dos partidos. A ideia do movimento é a de
que se deve propor aos cidadãos um novo sistema de voto, em que são
evidenciados os programas partidários, sem negar ao eleitor a palavra final
sobre os eleitos.
Com o propósito de banir as doações empresariais, fortalecer
os partidos enquanto instâncias programáticas, dar ao eleitor o controle dos
resultados das eleições e banir a transferência indevida de votos entre
candidatos, vem aí o mais novo projeto de lei de iniciativa popular do MCCE.
Precisamos de partidos de verdade. A falta de partidos
verdadeiramente programáticos favorece o individualismo, apequena a democracia
e estimula o voto mercenário.
Para combater de modo mais eficiente a corrupção política
precisamos de um sistema que enfatize os partidos e sufoque o personalismo que
está na base das relações clientelistas.
Publicado no site Congresso em Foco, dia 21 de maio 2013
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Márlon Reis é juiz de direito e um dos
fundadores do movimento de combate à corrupção eleitoral que levou à aprovação
da Lei da Ficha Limpa, escreveu este texto em conjunto com Bruno Magrani,
mestre por Harvard e professor do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV-Rio.
Publicado originalmente no site Congresso em Foco.
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