É a volta do cipó de aroeira
Tudo
começou como um movimento de extrema esquerda: na primeira passeata em São
Paulo, militantes do MPL, PSTU, PSOL e PCO, com bandeiras, estavam à frente,
bloqueando a Avenida Paulista. O MPL, Movimento Passe Livre, foi criado pelo
Fórum Social Mundial, organização assumidamente de esquerda, na reunião de
2005. O domínio de Internet usado pelo MPL pertence a uma ONG próxima ao PT,
Alquimídia, que recebe recursos da Petrobras e do Ministério da Cultura e até o
início das passeatas trazia no site os símbolos governamentais.
Mas o movimento caiu no gosto do público e atraiu
gente que não tinha nada de esquerdista: queria protestar contra a corrupção, o
desperdício do dinheiro público, o custo da Copa, os gastos de parlamentares, o
Mensalão, os problemas da saúde, problemas sempre associados ao Governo. O que
era para ser um movimento contra a alta das tarifas virou ponto de encontro de
descontentes com o Governo e o PT - a ponto de manifestantes se reunirem em
frente à residência de Lula, em São Bernardo, SP, gritando insultos, a ponto de
manifestantes se concentrarem diante da residência do prefeito petista Fernando
Haddad, em São Paulo. O radicalismo antipetista chegou a acusar a Globo de
estar a serviço do PT.
É sensível a queda de prestígio do Governo. Ruim:
este é o Governo que temos, gostemos ou não, e que até o fim de 2014 tem a
tarefa de gerir o país.
O bumerangue foi e voltou, atingindo quem se
sentiu esperto ao ter a brilhante ideia de lançá-lo.
Como diz o provérbio ídiche, o homem planeja e
Deus ri.
Millôr Fernandes, gênio do texto e da frase, assim
sintetizava a democracia: "Todo homem tem o sagrado direito de torcer pelo
Vasco na arquibancada do Flamengo". Foi o que faltou na grande passeata
quase pacífica da Avenida Paulista, quando militantes de partidos políticos
foram expulsos pelos demais manifestantes, ampla maioria na demonstração.
É verdade que a postura dos militantes partidários
foi provocadora. Petistas, seguindo as ordens do presidente do partido, Ruy
Falcão, tentaram tomar a frente da passeata, para aparentar que a controlavam;
outros grupos partidários também se uniformizaram e levaram bandeiras próprias,
não as da manifestação. Mas, por provocadores que fossem, tinham esse direito,
que lhes foi negado. Millôr tem razão. Mas também é verdade que quem torce pelo
Vasco na arquibancada do Flamengo tem de assumir o risco.
Gritos, palavras de ordem, bombas. Mas o ruído
mais estrondoso das manifestações foi o causado pelo silêncio da presidente
Dilma, do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e de Lula, o ex-presidente
em exercício.
Cartola na cabeça
A segunda mulher mais poderosa do mundo está muda.
Já a mulher mais poderosa do Brasil está silenciosa por outro motivo: nas
palavras do grande Cartola, amigo de Carlos Cachaça, as rosas não falam (http://youtu.be/te2HfDsXcXs)
O silêncio de ouro
O chanceler Antônio Patriota disse que o povo está
ganhando mais e por isso se manifestou. Seu pensamento não revelou nada que já
não se soubesse sobre ele, mas não precisava tornar tão explícito o vácuo que
existe entre suas orelhas.
Constatação
A presidente e seus ministros reuniram-se no
Palácio do Planalto, na sexta, para discutir a crise que já durava duas
semanas.
Saíram e a sala continuou vazia.
O especialista
O governador do Rio, Sérgio Cabral, aquele que foi
fotografado numa festança privada em Paris com amigos empreiteiros, todos com
guardanapos na cabeça, suas esposas exibindo para as fotos caríssimos sapatos
Louboutin, foi à TV dissertar sobre corrupção.
As emissoras de TV só procuram quem conhece o tema.
Bolsa-Copa
Na véspera de Dilma ser vaiada no Estádio Mané
Garrincha, já com manifestações pipocando pelo país, foi publicado em edição
extra do Diário Oficial a União, dia 14, o decreto
8.028/13, autorizando o pagamento de diárias a autoridades federais que queiram
assistir aos jogos da Copa das Confederações.
A diária de hotel é de R$ 581,00 para ministros (mais
verba para viajar a qualquer cidade-sede das partidas); para os comandantes de
Exército, Marinha e Aeronáutica, é de R$ 406,70. Outros funcionários também têm
direito a esse tipo de diária, embora menos substancial. Pelo decreto, a diária
ainda pode ser duplicada.
O acusado
Aquilo que se conseguiu evitar durante duas
semanas de confrontos entre manifestantes e policiais, a morte de alguém,
acabou acontecendo em Ribeirão Preto, SP. Alexsandro Ichisato de Azevedo teve a
prisão solicitada pela Polícia sob a acusação de avançar com seu carro, um SUV
Range Rover, contra 13 manifestantes que ocupavam uma esquina, atropelando-os.
Houve três vítimas: duas moças feridas, uma delas gravemente, e um rapaz morto,
Marcos Delefrate, 18 anos. Ao que se saiba, não houve atrito anterior: os
manifestantes pediram a Azevedo que retornasse; ele ameaçou avançar duas vezes
e, na terceira, avançou e matou.
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