Nas asas da crise
Gente que já viu boi voar e acredita em urubus
rosados que nadam nas areias borbulhantes do Deserto de Atacama sabe que há
coisas impossíveis: por exemplo, que vários jornalistas tenham a sorte
simultânea de descobrir, sem que ninguém lhes conte, que Renan Calheiros e
Henrique Alves, presidentes do Senado e da Câmara, usaram aviões da Força Aérea
Brasileira para atividades particulares. Alguém contou. Suspeita-se de gente do
Governo tentando desviar as atenções, após os dois pênaltis que Dilma bateu
para fora, o da Constituinte exclusiva para a reforma política e o do
Plebiscito imediato.
Pois não é que, tão logo saíram as acusações
contra o senador e o deputado, apareceu a notícia de que um ministro do
Governo, Garibaldi Alves, da Previdência, usou um avião da FAB para ir ao jogo
do Brasil? Chumbo trocado dói, sim. E pau que dá em Chico dá em Joaquim. O
presidente do Supremo, cujo nome vinha sendo citado cada vez com mais ênfase
como candidato à Presidência da República, em grande parte por sua postura inflexível,
acabou surgindo no noticiário por ter ido ver o jogo com passagem paga por dinheiro público. E ao lado do apresentador
Luciano Huck - por coincidência, patrão de seu filho. Joaquim Barbosa diz que
não ambiciona ser presidente, mas sabe como é: de repente, pode mudar de ideia,
e é melhor abater sua candidatura antes que levante voo.
E Dilma? Dilma tenta reequilibrar-se. Mas quando
nem Mercadante comparece à sua reunião de todos os ministros, é bom verificar
quem é que lhe sobra.
A voz do partido
O fato é que Dilma vem sendo contestada pelos
aliados (o PSB já se foi, o PMDB dificilmente esquecerá que Michel Temer foi
ignorado pela presidente e que tanto Henrique Alves quanto Renan são a cara do
partido; e o último que pôs a mão no fogo pelo PSD foi o Capitão Gancho); e
também por seu próprio PT.
Ouça o deputado federal Devanir Ribeiro, petista
da Velha Guarda, amigo e frequentador da casa de Lula: "Quem pediu
plebiscito? O que falta no governo Dilma é gestão. As pessoas querem transporte
de qualidade, saúde e educação. Dinheiro tem. É só investir (...) Eu acho que
já está na hora de o Lula voltar".
Sob os meus pés os caminhões
Em São Paulo há um feriadão que emenda o fim de
semana na terça, 9 de Julho. Os estudantes estão de férias. E nem assim a crise
arrefece: a tal greve geral, promovida por centrais que têm excelentes motivos
para ser governistas, pode desfazer-se antes da data marcada, dia 11, mas a
paralisação dos caminhões é crise séria.
Desmanchar a irritação dos caminhoneiros é tarefa
urgentíssima.
Sobre a cabeça os aviões
Das viagens de Suas Excelências com o dinheiro de
Nossas Excelências:
1 - O ministro Garibaldi Alves levou de carona, no
avião da FAB, um empresário poderoso, Glauber Gentil, que certamente por
coincidência é sócio de seu filho, Bruno Alves, na BRJM Seguros. Garibaldi e
Glauber fizeram pela FAB a rota Fortaleza-Rio. Foi um programa bem familiar.
Garibaldi ficou no Rio, mas seu sobrinho, o presidente da Câmara Henrique
Alves, voltou para o Nordeste pela FAB com a noiva e a família da noiva; e
levou também Glauber Gentil.
2 - O presidente do Senado, Renan Calheiros, acabou pagando algum troco pelo uso do avião. Mas reclamou: disse que tinha direito a avião de representação - o da Força Aérea Brasileira.
2 - O presidente do Senado, Renan Calheiros, acabou pagando algum troco pelo uso do avião. Mas reclamou: disse que tinha direito a avião de representação - o da Força Aérea Brasileira.
E desde quando avião militar é de representação?
Eu organizo o movimento
Os casos citados são escandalosos, sem dúvida; mas
houve quem trabalhasse para dar ênfase aos escândalos. Num outro caso, em que
se envolveu um ministro café-com-leite, sem grandes perspectivas
político-eleitorais, o escândalo foi no mínimo do mesmo tamanho, mas repercutiu
muito menos.
Deu-se que o ministro da Integração Nacional,
Fernando Pimentel, pagou com dinheiro público a passagem, hospedagem,
alimentação e turismo de nove blogueiros de diversos Estados nordestinos, que
foram especialmente a Brasília para entrevistá-lo. Entrevistas favoráveis,
claro. E o esforço de popularização saiu baratinho, para ele.
No pulso esquerdo o bang-bang
Dizem que a história foi assim: Wellinton Costa,
assessor do deputado Henrique Alves, presidente da Câmara, foi assaltado em
Brasília. Os bandidos revistaram seu carro e levaram uma maleta com R$ 100 mil.
Dinheiro que acabara de ser retirado do banco? Não, nada disso: o dinheiro
tinha sido retirado há três dias e continuava guardado no carro.
Qual a origem do dinheiro? Wellinton não conta. Em
resumo, o assessor de um deputado importante passou três dias carregando uma
maleta com R$ 100 mil, de origem não esclarecida, até ser assaltado.
De três, uma: acostumado a Brasília, o assessor
não achava que R$ 100 mil fossem muito dinheiro, que merecesse ser guardado em
lugar seguro; ou não pode contar de onde vem o dinheiro, o que é curioso; ou
não tinha retirado o dinheiro há três dias, e seria interessante explicar o
motivo do segredo. É isso, né?
Passe livre
O transporte no país é ótimo, rápido, confortável,
barato. Que o digam Garibaldi Alves, Renan Calheiros, Joaquim Barbosa, Henrique
Alves e outros.
Muito bom.
ResponderExcluirDarlan Caldas.