Por: Benedito Saraiva Filho
O soldado era recruta e exercia a função de eletricista a pouquíssimo tempo.
O cabo eletricista estava aposentando e a vaga precisava ser preenchida.
O soldado mais antigo, já com vinte e cinco anos de caserna, era o mais forte candidato.
O que poderia fazer um recruta com apenas dois anos de serviço diante dessa situação e querendo ser promovido?
Essa história precisa ser contada na primeira pessoa do singular:
“Não é que eu não gostasse da graduação de soldado. Mas a ascensão profissional não se traduz apenas em acumulo de trabalho e responsabilidade. O soldo aumenta, pode-se assumir uma função de sargento, aumenta o statos... Ora, Cabo em um destacamento é autoridade pra cassete. Tem aquela máxima que diz: “eu queria ter a metade da autoridade de Cabo em destacamento”.
Cabo em cidade pequena é Delegado, Juiz de Direito, Juiz de Paz, Juiz de Futebol, promotor, conselheiro... Despacha direto com o Prefeito, é convidado para festa de casamento, aniversário, batizado; e a festa só começa depois que o “seu Cabo” chega.
Essa autoridade às vezes fica tão empolgando que chama coronel de “cumpadi”, e se o superior chama a atenção ele diz que entre graduado não tem frescura.
O único descontente dessa graduação que conheço é o Cabo da Guarda: de duas em duas horas coloca a guarda em forma, rende todos os postos de serviço e quando pensa de vai descansar começa tudo de novo.
Mas eu não queria ser “escravo da guarda”, minhas pretensões eram outras, será que o leitor conseguiu adivinhar?
Comecei a dar início ao meu plano
Pela manhã, bem antes do Comandante Geral eu já estava no quartel. Ficava em um cantinho meio escondido lendo gibi, e quando anunciavam a chegada do chefe, pegava minha escada, colocava no ombro, passava por ele e o saldava com um sonoro e entusiasmado: “bom dia comandante”. Meio dia, ao toque do rancho, largava meus afazeres ou desfazeres, com a escada na porta do cassino dos oficiais, simulava a troca de uma lâmpada o reparo de uma tomada, parava o “serviço” quando o chefe ia passando, e o cumprimentava com garbo: “bom dia comandante”. Estávamos sempre nos encontrando subindo ou descendo a escadaria que dava acesso ao seu gabinete, eu sempre com a escada no ombro. Nas formaturas lá estava eu com a famosa escada, nas revistas às dependências do quartel sempre era visto pelo meu comandante com minha inseparável namorada.
Chegou o dia da indicação para a promoção. A lista foi entregue para o comandante, e depois eu soube do seguinte diálogo: “Promoveremos o Pedro.” (Pedro sou eu). “Mas Senhor Comandante, é o soldado mais recruta, o José é mais antigo, tem vinte e cinco anos de serviço”. “Não importa, promoveremos o Pedro por merecimento, todas as vezes que eu vejo esse soldado é com a escada.”
Moral da história: “é preciso saber usar a escada.”

Realmente... é preciso usar a escada
ResponderExcluirAdorei a historia