"Menino do Rio"
Há algo pior do que a tragédia do Realengo? Há: somar a ela a radicalização de preconceitos, de julgamentos apressados, de clamor público contra todos os que forem diferentes. O assassino, sempre em palavras oficiais, foi classificado como "desprovido de valores cristãos", como "islâmico radical", como discípulo de pastores evangélicos dedicados ao fundamentalismo bíblico. Um popular programa de rádio disse que crimes bárbaros são cometidos por gente sem Deus. Os ateus são sempre culpados, pois não têm Deus nem valores cristãos; os seguidores de religiões não-cristãs são também culpados. E o "islâmico radical", de onde tiraram isso? Da carta de suicida em que o criminoso fala em Jesus?
O coquetel de preconceitos foi longe, sempre com ampla repercussão nos meios de comunicação. De acordo com a imaginação de autoridades diversas, o rapaz matou por ter acabado de saber que tinha Aids; ou porque, quando frequentava aquela escola, era chamado de veadinho; ou por ser homossexual não-declarado, que por isso preferia alvejar meninas; ou porque era estranho, não cumprimentava as pessoas, e seu melhor amigo, talvez o único, era fanho. Ah, sim: era nerd, fanático por computadores. E só matou porque, graças ao referendo sobre armas, foi fácil arranjar revólveres e balas. O besteirol vai longe - e é explorado politicamente, por gente contrária a uma religião ou outra, ou à legalidade das armas, ou que tenta botar a culpa no Governo do qual discorda.
No caso, não é culpa do Governo. Como prever e prevenir atos tão insanos?
Com lei, sem lei
Este colunista é contra a posse de armas por civis. Mas isso nada tem a ver com o crime do Realengo: uma pessoa obcecada por matar arranja armas de alguma maneira, legal ou ilegal. E, a propósito, esta não é a primeira tragédia deste tipo que ocorre no Brasil. Em escolas, foi; mas a cada fim de semana temos as notícias de que houve chacinas, mortes em massa. Muitas vezes são crimes de encomenda; mas com frequência morre quem está ao lado do alvo escolhido. E não vamos esquecer de Matheus Meira, o estudante de Medicina que disparou a metralhadora contra a platéia de um cinema em São Paulo - isso há 12 anos.
A volta do que não foi
Delúbio Soares, "o nosso Delúbio", como Lula o chamou, está de volta ao PT: retorna em grande estilo na reunião do Diretório Nacional do dia 29. Aliás, não está de volta: na verdade, nunca saiu, embora tenha sido formalmente expulso.
O homem dos mil defeitos
É incrível: mal o homem deixa a presidência da Vale, a imprensa ligada ao Governo começa a falar mal de Roger Agnelli. Parece que ele era centralizador, autoritário, detalhista, queria mandar sozinho, demitiu eminentes cumpanhêru, só pensava nos acionistas, um horror. Este colunista não entende nada de administração. Mas sabe o resultado do jogo. Na gestão de Roger Agnelli, que começou em 2001, as vendas da Vale foram multiplicadas por dez. A Vale se tornou a maior produtora mundial de minério de ferro e a segunda mineradora do mundo. Comprou a líder mundial de níquel, a Inco canadense. As ações se valorizaram 1.583%. Traduzindo, quem comprou mil reais em ações da Vale no dia da posse de Agnelli tem agora seus R$ 16.830,00. Pelo jeito, não era tão ruim assim.
Viajando
A presidente Dilma Rousseff aproveitará parte de sua visita à China para conhecer, em Xian, os oito mil guerreiros moldados em terracota que cercam o túmulo do primeiro imperador do país, Chin Shi Huang, que reinou há pouco mais de dois mil anos. É uma longa viagem - e Dilma poderia ter-se poupado do esforço: os guerreiros de Xian estiveram em São Paulo em 2003, na Oca, do Parque Ibirapuera. Foram vistos por pouco mais de 800 mil pessoas.
Gastando
O primeiro-secretário do Senado, Cícero Lucena, tucano da Paraíba, anunciou a troca dos 86 carros utilizados pelos nobres parlamentares. O Senado comprará carros novos ou os alugará. Segundo Lucena, os carros atuais, Fiat Marea, têm oito anos de uso e exigem muitos gastos. A troca, portanto, será por economia.
Este colunista tem uma sugestão para economizar mais ainda: vender a frota de carros do Senado. Senador americano não tem carro oficial (nem ministro da Suprema Corte): cada um compra o seu, se quiser. Lorde inglês não tem carro oficial. No total, o Senado tem 188 veículos - alguns para levar funcionários ao estacionamento, outros para convidados. Para que? Para nada.
Ciranda...
Alckmin apoia Serra que apoia Kassab que apoia Afif que apoia Alckmin que apoia Chalita que quer o apoio de Skaf que não apoia ninguém. O problema nesses apoios é de equilíbrio: é dificílimo apoiar-se no cabo do punhal quando a ponta se assenta num lugar macio, como a jugular do aliado.
...cirandinha
No Brasil, um oposicionista contar com a solidariedade de outro oposicionista é mais ou menos como um civil líbio contar com a proteção aérea oferecida pelos caças e foguetes dos seus aliados da OTAN.
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