A língua de Marcos Valério amolece na proporção direta da aproximação da cana dura. O operador do mensalão prestou depoimento à Procuradoria da República, informam os repórteres Ricardo Brito e Fausto Macedo. Deu-se em setembro, numa audiência com o procurador-geral da República Roberto Gurgel.
Marcos Valério Foto: AE |
Contou que fez outras remessas de dinheiro ao exterior além daquelas que foram parar na conta de Duda Mendonça, o marqueteiro da campanha de Lula em 2002. Informou que foi ameaçado de morte. E insinuou que dispõe de informações sobre outro caso: o assassinato do ex-prefeito petista de Santo André, Celso Daniel, morto em 2002.
Para prover os detalhes, Valério pede para ser incluído no programa de proteção a testemunhas. Algo que, no limite, poderia livrá-lo da cadeia. Após avistar-se com o procurador-geral, formalizou o pedido em fax enviado ao STF, algo já noticiado no início da semana.
Destinatário do documento, o ministro Carlos Ayres Britto, presidente do Supremo, definiu-o como “hiperlacônico”. Disse ter remetido a peça ao relator do mensalão, Joaquim Barbosa. Determinou que fosse analisada sob sigilo. Por isso, absteve-se de dar detalhes.
Um eventual depoimento de Valério já não teria o condão de alterar os rumos do julgamento do STF. Ele já foi conenado a mais de 40 anos de prisão. Porém, suas revelações poderiam ter serventia em processos que ainda aguardam julgamento no próprio STF e na primeira instância do Judiciário. São desdobramentos do inquérito do mensalão. Há, de resto, o caso do mensalão do PSDB de Minas Gerais –uma parte corre no STF e outra na Justiça Federal, em Belo Horizonte.
Na hipótese de Valério ser levado a sério, ele seria incluído no programa de ‘assistência a vítimas e a testemunhas ameaçadas’. Previsto em lei, assegura proteção do Estado. O ex-parceiro de Delúbio Soares teria de ser enviado a um local desconhecido. Na prática, a proteção evitaria o cumprimento da pena de cadeia.
Dependendo do que Valério disser, a troca pode ser justificável. Primeiro porque o degredo não deixa de ser um castigo. Depois, poque o país tem o direito de conhecer os detalhes de tudo o que se passou no assombroso período de 2002 a 2005. Também merece conhecer os meandros do caixa clandestino que besuntou a malograda campanha reeleitoral do tucano Eduardo Azeredo ao governo mineiro.
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