Do: blog do Ricardo Setti
Dispõe a tradição da etnia xhosa da África do Sul, à qual pertence o ex-presidente e pai da pátria Nelson Mandela, 92 anos, que as pessoas mantêm uma ligação permanente com seus ancestrais, e devem voltar para onde eles repousam para morrer. Assim, foi com consternação que o país ficou sabendo que Mandela e a esposa, Graça Machel, haviam voado de Johannesburgo, onde vivem, e chegado à aldeia de Qunu, na província do Cabo Oriental onde foi criado o líder da derrubada do regime racista do apartheid e introdutor da democracia no país.
O avião que conduzia o velho líder e a mulher aterrissou no aeroporto da cidade de Mthatha, 875 quilõmetros ao sul de Johannesburgo e a alguns quilômetros da pequena aldeia, acompanhado de um impressionante esquema médico e de segurança: outros 4 aviões, uma ambulância militar e 12 automóveis.
“Quero ir para casa”
“Quero ir para casa”, teria dito Mandela à família, meses depois de ter se recuperado de uma pneumonia que o levou a passar 2 dias num hospital de Johannesburgo. Já há tempos ele se encontra muito fragilizado, e passa meses sem aparecer em público.
Qunu é uma aldeia simples, com muitas choças e casas de paredes de barro, que até há pouco não dispunha de eletrecidade. Ao deixar o cárcere em 1990, depois de 27 anos de prisão – boa parte em solitária — por sua ação contra o regime racista, a primeira viagem do líder do então ilegal Congresso Nacional Africano foi exatamente a Qunu, onde acabou construindo uma casa que ainda mantém. Não há prazo para sua volta a Johannesburgo.
Além dos longos e duríssimos anos de prisão – durante anos a fio, ele só podia receber uma visita e uma carta a cada 6 meses –, Mandela sofreu golpes terríveis da vida, como perder 2 filhos e uma filha, dos 6 que teve em dois casamentos, além de uma neta muito querida, que morreu num acidente de tráfego justamente quando se realizava a Copa do Mundo de 2010 em seu país.
Um aperto no coração de muita gente
Tem, porém, uma vasta família, e um de seus porta-vozes é o bisneto Luvuyo Mandela, que assegura que o ex-presidente (1990-1995) e Nobel da Paz de 1993 está bem.
Muita gente na África do Sul, porém, sente um aperto no coração, por temer que o homem exemplar que estendeu a mão aos algozes para virar a página do regime racista e reconciliar os sul-africanos, que deixou a luta armada em prol da paz, da tolerância e da democracia, que nunca deixou de pregar contra o ódio entre negros e brancos, que foi para a casa depois de exercer um mandato, quando poderia se reeleger quantas vezes quisesse, o último dos gigantes do século XX, Madiba – como é conhecido – ou Tata (“papai”, no idioma xhosa) pode aos poucos estar se despedindo para sempre.
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