Coluna do Carlos Brickmann | Blog do Louremar

domingo, 10 de julho de 2011

Coluna do Carlos Brickmann

"Finge tão completamente"

O Senado, pasme o leitor, promete fazer economia. O presidente do Senado que vai fazer economia é José Sarney - que começou a fazer economia por lá já faz muitos anos, gastando dinheiro com a contratação de um estudo da Fundação Getúlio Vargas que deve estar hoje guardado na cesta seção. O relator do projeto da economia é um senador do PMDB - um partido tão econômico que não gasta dinheiro em campanhas presidenciais, preferindo aderir ao vencedor para aplicar seus planos de economia em ministérios, Secretarias e outras bocas das boas.

Como será feita a economia? Vejamos o número de cargos de livre provimento (sem concurso) no gabinete dos senadores. Hoje, cada um pode nomear 12 assessores. Com a economia, poderá nomear 55. Não entendeu? É por isso que eles são senadores e o caro leitor não tem a honra de sentar-se ao lado de Renan Calheiros.

Hoje, os 12 cargos podem ser desdobrados em até 79 - ou seja, quase multiplicados por sete. E 55 é um número menor que 79, embora maior que 12, entende? Com o dinheiro economizado, alguns terão uma nova gratificação.

Mais economia? Cria-se o cargo de ombudsman para a Comunicação - que, a propósito, passa a ter 82 funcionários, mais que a maior parte dos jornais do país. Hoje, 101 funcionários cuidam do trepidante noticiário de Suas Excelências.
O Serviço Médico, com 48 médicos e oito dentistas para 81 senadores, pode ser reduzido. Afinal, senador vai se tratar é em São Paulo. Como saúde é essencial e não tem preço, você paga passagem, hospital e tratamento. Seja generoso.

Respeito, senhores!

O Governo brasileiro ofereceu tratamento de câncer no Brasil ao presidente venezuelano Hugo Chávez. Assim não dá: se é para o convidado pagar o tratamento em hospitais privados, não é oferecimento, é proposta de negócio. E se é para o convidado se tratar em hospitais públicos, não é oferecimento, é ofensa.

Ministro, filho, sobrinho

O problema de certos políticos é formação de família.

Para pensar

O excelente jornalista Moacyr Castro, antigo companheiro de Jornal da Tarde, lembra que o "eu não sabia" dos governantes, como desculpa para esquivar-se da roubalheira ocorrida abaixo deles, é a mesma bobagem dita nos tempos da ditadura, pelo general Ednardo d’Ávila Mello, cujos subordinados assassinaram Vladimir Herzog e Manuel Fiel Filho.

Se o chefe sabia ou não, não tem a menor importância: saber faz parte de suas obrigações. E, mesmo que tenham sido traídos pelos subordinados, são responsáveis pelo que ocorre sob seu comando.

Os números da ponte

A China construiu uma ponte de 42 km sobre o mar, ligando o porto de Qingdao à ilha de Huangdao. A ponte custou algo como R$ 2,4 bilhões. A nova ponte do Guaíba, no Rio Grande do Sul, com 2.900 metros, a ser construída pelo DNIT do Ministério dos Transportes, tem orçamento previsto em R$ 1,16 bilhão. Cada quilômetro da ponte chinesa custou R$ 57 milhões. Cada quilômetro da ponte brasileira está previsto em R$ 400 milhões.

É claro que cada obra é uma obra e os preços normalmente não podem ser comparados. Mas a ponte chinesa é sobre o mar, a corrosão dos equipamentos é maior, o concreto deve ser preparado para resistir às ondas e à maresia; a brasileira é sobre um rio lento (há quem sustente que nem é rio, é lagoa), com água doce. A brasileira deveria custar bem menos.

Tem de ser caro

A farra no Ministério dos Transportes é grande faz tempo - pelo menos desde que o ministro Alfredo Nascimento entrou na área, há uns oito anos e pouco. Denunciada a bandalheira do Ministério, caíram os assessores. Denunciado o enriquecimento rápido de um parente do ministro, caiu o ministro. E quem vai para o lugar? Não se sabe - mas será indicado pelo PR, partido do ex-ministro e seus assessores, presidido pelo ex-ministro e comandado pelo deputado Valdemar Costa Neto, o Boy, aquele que teve de renunciar para não ser cassado por seus próprios pares. O senador Blairo Maggi, ex-governador de Mato Grosso, membro do PR, milionário e amigo de Lula, pode ser o nome - mas já sofre alguns processos e, como ministro, terá investigações mais intensas. Vale a pena?

Silêncio de ouro

Um dos homens-fortes do Ministério dos Transportes, Luiz Antônio Pagot, que comandava o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (o mesmo DNIT que vai construir a ponte do Guaíba), já mandou recado ao Governo: se ficar insatisfeito, pode vencer a mudez que o atinge e voltar a falar. Já disse que só cumpriu ordens. O Governo tem até terça-feira para acalmá-lo. Na terça à tarde, ele deve falar no Senado.

Onça faminta rosna, onça feliz mia.

Ah, se funcionasse!

1 - A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou projeto que aumenta em um terço a pena de políticos condenados por crimes contra a administração pública. Ótimo: só falta condenar algum.

2 - A Polícia Federal multou vários bancos em R$ 635 mil por não-cumprimento de normas de segurança. Já pensou que bom se algum pagasse?

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