Do: blog do Noblat
Quando José Sarney (PMDB) era presidente da República, seu colega de
partido, o senador Fernando Henrique Cardoso, costumava observar galhofeiro ao
saber que ele viajara:
- A crise viajou.
Na volta de Sarney, Fernando Henrique ironizava:
- A crise está de volta.
É claro que adversários de Fernando Henrique se valeram da mesma graça
quando ele se elegeu e se reelegeu presidente da República.
A boutade não se aplicou ao presidente Itamar Franco - primeiro porque ele
viajou pouquíssimo, segundo porque soube enfrentar com rapidez as crises que
ameaçaram seu governo.
Itamar foi chamado de caipira e gozado por seus desafetos. Mas a História,
agora que ele morreu, lhe fará justiça.
Atribui-se o Plano Real ao então ministro da Fazenda Fernando Henrique
Cardoso. Esquece-se que o presidente era Itamar. Se o Real tivesse ido pelo
ralo, Itamar seria o primeiro a pagar a conta. Teve a coragem de bancá-lo.
Elogia-se o desempenho de Fernando Henrique como ministro das Relações
Exteriores e, depois, como ministro da Fazenda. Mas foi Itamar quem ousou pôr
um sociólogo no Ministério da Fazenda.
O Real elegeria um poste - quanto mais o ministro da Fazenda cuja
assinatura, por concessão de Itamar, apareceu nas novas cédulas de uma moeda
com o mesmo peso do dólar.
Antonio Carlos Magalhães era o todo-poderoso governador da Bahia quando
bravateou que tinha um dossiê sobre corrupção no governo Itamar.
Foi convocado por Itamar para mostrar o dossiê em audiência no Palácio do
Planalto. Ao chegar lá, para sua surpresa, havia um monte de jornalistas
reunidos para testemunhar a cena.
O tal dossiê não tinha consistência. Antonio Carlos saiu da audiência
furioso.
Henrique Hargreaves, chefe da Casa Civil do governo Itamar, foi afastado do
cargo à primeira denúncia de que poderia ter se envolvido em irregularidades.
Itamar nem pestanejou.
Uma vez provada a inocência dele, foi chamado de volta.
O embaixador Rubens Ricúpero substituiu Fernando Henrique no Ministério da
Fazenda. Um dia, em conversa informal com o jornalista Carlos Monfort da TV
Globo, antes do início da entrevista que lhe concederia em seguida, produziu um
desabafo que se tornaria famoso:
- Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente mostra. O que é ruim a gente
esconde.
O microfone de lapela posto no ministro estava aberto - e ele não sabia.
Monfort também não.
O que disse Ricúpero foi captado por antenas parabólicas em regiões remotas
do país. Não foi levado ao ar por nenhum telejornal daquele e dos dias
seguintes.
Nem por isso Itamar hesitou: Ricupero foi substituído por Ciro Gomes, na época
governador do Ceará.
Itamar era assim.
Dele, Tancredo Neves afirmou um dia:
- Dizem que Itamar tem sorte. Não é sorte. É destino.
Itamar foi um político ficha limpa. Limpíssima. E esse será seu maior legado.

Esperamos que os políticos eleitos pelo povo de Bacabal siga o exemplo de Itamar. Se é que é possível a essas alturas do campeonato ter ficha limpa, pelo menos Alberto Filho e Carlinhos Florêncio ainda têm.
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