Adilma Ribeiro, candidata em São Vicente (SP) |
As primeiras
eleições em que o número de candidatas mulheres atingiu o mínimo de 30%
exigidos por lei podem estar marcadas também pelo “efeito Dilma”. Ao todo, são
143 homônimas da presidente concorrendo a cargos eletivos. Elas incrementam o
recorde de 138.599 brasileiras que, seja inspiradas pela presidente da
República, seja por necessidade dos partidos, decidiram encarar a corrida
eleitoral.
Dezoito dessas
mulheres chamam-se Dilma só nas urnas, não nas certidões de nascimento. Algumas
nem se distanciam tanto, tendo como nomes de batismo “Adilma” ou “Edilma”.
Outras, porém, foram registradas de forma bem diferente, como Maria Aparecida
de Oliveira, de 43 anos, que tenta se eleger vereadora na cidade de Montes
Claros, em Minas Gerais.
A Dilma que se chama Maria Aparecida
Maria Dlma de Oliveira, candidata em Nanuque (MG) |
Ela, que faz
campanha como Dilma, nem pensava em se envolver com política um ano atrás. A
decisão veio com a criação do diretório de um novo partido na cidade — o PSD,
fundado em setembro de 2011 —, quando, após participar de algumas reuniões da
legenda, ela soube que faltavam mulheres candidatas.
— Eu me dei conta
de que esta é uma oportunidade de as mulheres mostrarem o que podem fazer —
afirma.
E esclarecendo a
origem do apelido:
— Poucas pessoas me
conhecem por Maria Aparecida. Desde pequena, uma madrinha me chama de Dilma e
muitos pensam que é o meu nome de verdade. Se isso influenciar na hora do voto,
vai ser ótimo. A presidente é uma inspiração, uma mulher muito forte.
Candidata em Simões
Filho, na Bahia, Dilmara Portela dos Santos resolveu encurtar o nome para fazer
campanha. Aos 32 anos, casada e com dois filhos, ela quer ser vereadora para
trabalhar no combate às drogas e no incentivo a projetos sociais no município.
Já a maranhense
Eulina Avilino foi além e se candidata na cidade de Santa Luzia como “Dilma do
Povão” (PMDB-MA). Outra a customizar o nome foi Josilma Bezerra Gomes, que
concorre como “Dilma do Badú” (PDT-RN) em Pureza, no Rio Grande do Norte.
Representação feminina ainda não é satisfatória
Dilmara, candidata em Simões Filho (BA) |
Para a cientista
política e pesquisadora do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA),
Patrícia Rangel, a imagem da presidente Dilma pode ter influenciado no aumento
do número de candidatas nessas eleições, mas ainda há muito a ser feito em prol
da representação da mulher.
— O fato de termos
pela primeira vez uma presidenta acaba influenciando a política do país. É um
exemplo simbólico — pondera Patrícia. — No entanto, as mudanças não dependem só
do eleitorado, mas também dos partidos, que ainda são muito relutantes quanto à
participação feminina.
No embalo da
popularidade de Dilma Rousseff — aprovada por 75,5% da população, segundo
pesquisa da Confederação Nacional do Trabalho (CNT) —, a participação feminina
na política bateu recorde este ano: pela primeira vez, a candidatura de
mulheres superou os 30% exigidos pela legislação eleitoral.
São 138.599
brasileiras em busca de um cargo eletivo, o equivalente a 30,74% dos candidatos
— quase dez pontos percentuais acima do verificado em 2008, quando elas eram
apenas 21,37%. Mas os números, que por um lado mostrariam uma mudança na
cultura política do país, podem, na verdade, evidenciar uma estratégia
utilizada pelas coligações para driblar a lei. Apesar de negado pelos partidos,
o uso de “laranjas” — mulheres que se candidatam apenas para cumprir a cota — é
confirmado por fontes do meio político.
O juiz eleitoral
Murilo Kieling, responsável pelo registro de candidaturas do Rio de Janeiro,
afirma que o uso de “laranjas” só pode ser considerado crime caso a pessoa não
saiba que é candidata.
— Muitas vezes
essas mulheres se candidatam para atender a um pedido do partido, e nem fazem
campanha. Já o partido que indica uma candidata fantasma, uma filiada do
partido que não saiba da própria candidatura, aí sim comete um crime — afirma.
Reportagem publicada na editoria de Política do Estadão, edição de 21 de setembro passado
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário, fique à vontade para criticar e sugerior. Denúncias podem ser enviadas para louremar@bol.com.br ou louremar@msn.com