É ou não é
Realismo fantástico, caro leitor. Há um cavalheiro
no xilindró, devidamente condenado, preso, vendo o Sol nascer quadrado, bebendo
café de canequinha (em compensação, o celular dele deve funcionar muito melhor
do que o nosso, sabe-se lá por que motivo), querendo tomar posse na Prefeitura
de Nazaré Paulista, SP. E há outro que, sabendo que vem aí sua prisão
semiaberta, aproveita para desfrutar enquanto pode as benesses que os políticos
reservam aos seus - afinal, ninguém sabe o dia de amanhã! Este condenado, tudo
indica, poderá até ver o Sol redondo, mas no horário em que o Parlamento
deveria funcionar será obrigado a recolher-se ao recesso de seu xadrez
(especial, claro, que ninguém é de ferro), sofrendo embora o constrangimento de
assistir à novela numa TV coletiva.
Conte fora do Brasil que aqui os cadeeiros querem
exercer mandatos eletivos. Mas cuidado: todos os gringos vão achar que o caro
leitor é que ficou doidão.
Num país de ficção, daqueles supertropicais, em
que nem o realismo fantástico funciona porque é muito realista, dois
gigantescos conglomerados financeiros acertaram um monumental acordo de fusão
(que se chama fusão porque chamar uma operação tão bonita, em que um
compra o outro, de tomada de controle, soa meio grosseiro).
As diretorias conversaram, acertaram detalhes,
obtiveram a aprovação dos órgãos competentes de controle, negociaram com
sindicatos envolvidos uma redução menos ardida no número de empregos,
mantiveram a informação sob sigilo absoluto, mas certas providências internas
precisavam ser tomadas. Algum jornalista horroroso, certamente golpista,
nojentamente pensando em publicar notícias, soube. Os principais veículos de
comunicação, neste país em que surrealismo e hiperrealismo são a mesma coisa,
foram chamados, informados e instados a colaborar: receberiam a informação
desde que a mantivessem embargada até o momento em que, dado o sinal verde do Governo,
pudessem publicá-la.
Deu zebra: algum desapercebido avançou o sinal e
teve de recuar, como se uma informação sem sentido tivesse surgido do nada, por
puro milagre.
Mas espere: toda informação embargada em algum
momento é liberada.
Rosa, Rosa, Rosa
Gertrude Stein escreveu em 1913 uma frase famosa:
"uma rosa é uma rosa é uma rosa". Mas a discussão política de
exatamente cem anos depois vai passar por uma variação desta frase, na
belíssima letra de Vinícius de Moraes para Rancho das Flores: "Uma rosa não é só uma flor, uma rosa é uma Rosa, é a
mulher rescendendo de amor".
Ah, a força das lembranças poéticas, dos amores
d’antanho! Pois gargantas que a ditadura não calou, que a prisão não silenciou,
que os afazeres de altíssimos cargos não mantiveram quietas, essas lembranças
deram-lhe o toque de silêncio. A saúde voltou, alegria! Mas a eloquência se foi.
É cor de rosa choque
Seria interessantíssimo ouvir o professor Ildo
Sauer, especialista em Energia, petista desde que o partido era petista, e que
já mostrou, ao longo dos anos, que não mistura seu pensamento político com a
análise dos problemas de sua área. Qual será a opinião de Sauer sobre o
abastecimento atual de eletricidade?
Este é mesmo um país curioso. Há um Lobão elétrico,
trepidante, preocupado com seu trabalho, que faz sucesso há dezenas de anos;
mas quem cuida da energia na área federal é justo o outro, o Lobão desligado da
tomada.
O primeiro dos segundos
Durante a Segunda Guerra Mundial, dois grandes
generais, Henri Giraud e Charles de Gaulle, disputaram entre si quem comandaria
as forças da França Livre, que combatiam os nazistas. Mas na França não
conseguiram se instalar: De Gaulle morava em Londres, Giraud no Norte da
África. O Governo Provisório da Polônia e o Comitê de Lublin, ambos inimigos
dos nazistas, disputavam o controle da Polônia. Mas quem controlava a Polônia
eram os nazistas e os soviéticos. O Governo provisório ficava em Londres e o
Comitê de Lublin em Moscou.
O que há de ruim na História o PSDB repete: Serra
quer mais poder no partido em São Paulo, e há até quem diga que quer mudar de
legenda, para disputar mais uma vez a Presidência da República. Fernando
Henrique declara que Aécio é que tem de ser o candidato do partido. Alckmin diz
que é cedo - quem sabe sobra para ele tentar de novo, usando aquele
inacreditável colete tipo Fórmula 1 com logotipos de estatais?
Ganhar a eleição não importa: vale vencer no
partido. E, todos juntos chupando o dedo, olhar para os vencidos com ar de
vitoriosos.
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