Os sete pecados da Capital
Os pecados capitais são sete, mas tratemos do
primeiro: a Gula. A gula com que meteram a mão no dinheiro público, conforme
demonstrado pelo Supremo Tribunal Federal. E a maneira de reduzir o incômodo na
parte do corpo que mais doi entre os condenados do Mensalão: o bolso. Pois não
é que a primeira iniciativa em favor dos mensaleiros foi apelar à gula dos
aliados para arrecadar mais algum, que ajudasse os coitadinhos a pagar a multa
a que foram condenados?
Não deu certo: só os integrantes do núcleo político
do Mensalão, João Paulo Cunha, José Genoíno e José Dirceu, foram condenados a
multas de R$ 1,5 milhão (fora as penas de prisão). No banquete de arrecadação
de fundos, cada participante pagou entre R$ 100 e R$ 1.000; deste valor, devem
deduzir-se R$ 46, cobrados pelo restaurante. Como havia 170 convites, a
arrecadação máxima possível seria de menos de R$ 110 mil - isso se não houve
também dedução da taxa de serviço para remunerar os companheiros garçons. Falta
dinheiro. E ninguém pensou ainda no condenado às maiores multas, o companheiro
Marcos Valério!
Mas, cá entre nós, houve um erro sério: o tempo dos franguinhos passou, é da
época de luta sindical. Hoje, para entusiasmar os companheiros, é preciso
caprichar, trocar a cerveja por bons vinhos, colocar um cardápio de pescados da
Capital que atraia os convidados e seus gurus políticos. Truta sempre faz
sucesso. Quase todos ali gostam de robalo. E um prato mais chique, da cozinha
francesa: escargot, por exemplo.
Escargot na entrada, escargot na saída.
A ordem dos fatores
É Brasil, é Brasília. Primeiro eles comem, depois eles jantam.
Perguntas sem resposta
1 - Por que senadores e deputados (estaduais e federais) precisam de
um carro à disposição, mais motoristas, com gasolina e manutenção por nossa
conta?
2 - Imaginando que precisassem, por que a
concorrência foi especificada de tal maneira que só dois modelos de automóveis
podem concorrer?
3 - Por que magistrados precisam de carro oficial? Nos Estados
Unidos, só o presidente da Suprema Corte tem direito a carro oficial.
4 - O prefeito de Atibaia, bela cidade de 130 mil habitantes perto
de São Paulo, deve precisar de carro oficial, pois tem de viajar muito à
Capital. Mas precisa de um Ford Edge importado do Canadá, de mais de R$ 130
mil? Da mesma marca, um Ford EcoSport, que custa a metade, não resolveria o
problema?
5 - Pouca coisa? Some o número de parlamentares, magistrados,
prefeitos, multiplique pelo preço dos carros, mais motoristas, mais despesas. É
por essas e outras que o dinheiro para atividades essenciais acaba ficando
curtinho.
Me dá um dinheiro aí
Vereadores e prefeitos andaram promovendo fartos aumentos de salários nessas
últimas semanas, pouco se importando com o atendimento das necessidades da
população (as cidades serranas do Rio, por exemplo, continuam em ruínas desde
as chuvas do ano passado, mas Suas Excelências tiveram bons aumentos).
Até aí, neste país, tudo normal. Mas o prefeito de Nova Iguaçu, RJ, o
peemedebista Nelson Bornier, tripudia sobre o cidadão. Seu reajuste foi de
102,1% (algo que o caro leitor dificilmente terá obtido), e ainda disse que
este tsunâmico aumento "é digno". Completando: "É mais do que
justo para quem quer fazer trabalho sério e honesto, principalmente no momento
em que há gente que vive de corrupção".
Ou seja, o corrupto só é corrupto porque ganha pouco. Marcos Valério, pobre
moço, se ganhasse melhor não estaria entre os mensaleiros.
O livrinho, ora o livrinho
Quando foi presidente da República, o marechal Eurico Dutra, para ajudar a
apagar seu papel de homem-forte da ditadura, fazia questão de obedecer
rigorosamente à Constituição, à qual chamava de "livrinho". Quando
lhe sugeriam alguma medida, a primeira pergunta que fazia era sobre o que dizia
o livrinho.
O livrinho, a nossa Constituição, proíbe a censura prévia. O juiz de Macaé,
Estado do Rio, determinou que "obras eróticas" - como, por exemplo, 50
tons de cinza - sejam apreendidas, e só vendidas em embalagem lacrada.
Ler trechos na livraria, nem pensar. Folhear o livro para decidir a compra,
não: o juiz não deixa.
Mas o juiz não se manifestou sobre outro livro não
apenas erótico, como também de extrema violência e que viola todos os conceitos
de vida em sociedade. Trata de um rei, casado, que se apaixona pela esposa de
um de seus maiores amigos, um dos seus generais mais próximos. Numa guerra,
aproveitando a ausência do general, seduz e engravida sua esposa. Para evitar
problemas, envia o marido para uma batalha impossível, onde certamente será
morto. Seu filho com a adúltera herdará o trono; e terá 700 mulheres. Nome do
livro? A Bíblia.
Militar na Defesa
Com a viagem do ministro da Defesa, Celso Amorim, ao Uruguai, o comandante da
Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, ocupou o Ministério por dois dias. O que
está passando despercebido dos meios de comunicação é que, desde a criação do
Ministério da Defesa, no Governo Fernando Henrique, o brigadeiro Saito,
profissional sério, competente e respeitado, é o primeiro militar a ocupá-lo.
Muito bom.
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