O único cardeal de 80 anos que pode ser eleito papa

Do: Blog do Noblat, por Maurício Savarese 

O cardeal alemão Walter Kasper é um homem de sorte. Se o papa emérito Bento 16 não tivesse renunciado no dia 28 de fevereiro, ele nunca mais poderia votar e ser votado em um conclave -- aqueles acima de 80 anos podem participar dos debates anteriores, mas não comparecem ao momento crucial.

Mas por ter completado suas oito décadas de vida na última terça-feira, já no período de sé vacante, Kasper estará entre os 115 que se isolarão na Capela Sistina sabe-se lá em qual data para cumprir a tarefa de indicar o novo papa. Se os cardeais se empolgarem podem até elegê-lo. Seria inacreditável não só pela questão etária.

O alemão é um dos raros cardeais que incrivelmente já tiveram problemas com Bento 16. O primeiro dos grandes veio na década de 90, quando assinou uma carta com colegas na qual aceitava que divorciados na esfera civil voltassem a participar da vida da igreja.

Joseph Ratzinger, então chefe da Congregação para a Doutrina da Fé -- a sucessora da Santa Inquisição -- ficou furioso. Depois disso. Kasper tentou se aninhar no Vaticano como promotor do diálogo inter-religioso. Galgou postos e ganhou o respeito dos colegas.

Como já era um homem de sorte tempos atrás, topou uma nova encrenca com Ratzinger ao criticar um documento feito por sua congregação. Para o alemão, "Dominus Jesus" atacava o ecumenismo. "Não há salvação fora da Igreja", diz o texto.

Mesmo assim, o então papa João Paulo II o transformou em cardeal em 2001. Kasper criticou os britânicos, elogiou a vodca em uma entrevista, já provocou colegas e adversários publicamente desde então.

Antes de se dedicar ao ecumenismo, foi bispo da quarta maior diocese da Alemanha, Rottenburg-Stuttgart. Tem vários livros dedicados ao diálogo inter-religioso, o que costuma dividir os mais conservadores na Igreja entre o riso, o desprezo e a ira.

Se bobear, Bento 16 calculou sua renúncia em tempo para Kasper aparecer no conclave e garantir a diversão dos colegas