Mexendo no problema errado
Não é questão de nacionalidade: um dos maiores
médicos do Brasil foi um ucraniano, Noel Nutels, que levou a saúde pública às
áreas indígenas da Amazônia. A questão é outra: é que o Governo criou uma
enorme polêmica por achar que Saúde é Medicina. E não é: Medicina é a última
etapa na luta pela Saúde.
A Saúde começa pela engenharia - saneamento
básico. A água potável e os esgotos reduzem o número de doentes (e derrubam a
mortalidade infantil). Educação é o segundo passo: quem lava as mãos e cuida da
higiene básica, mantém o mosquito da dengue à distância, assegura a limpeza dos
animais domésticos e cuida de seu lixo tem mais condições de evitar doenças.
Condições de vida são importantes: roupas e calçados minimamente adequados,
alimentação suficiente, moradia saudável fazem milagres. Se uma pessoa educada,
com acesso a saneamento básico, alimentação e moradia, devidamente vacinada,
mesmo assim fica doente, então cabe à Medicina cumprir seu nobre e
insubstituível papel de cura.
Em resumo, não adianta trazer grandes
especialistas mundiais sem que a população tenha condições adequadas de vida.
Tem? Não, não tem. E não falemos de periferias: Guarulhos, na Grande São Paulo,
segunda maior cidade do Estado, 13ª do país, com 1,2 milhão de habitantes, onde
está o maior aeroporto internacional do país, não trata nem metade dos esgotos
que lança no rio Tietê.
A propósito: sem seringas, termômetro, um medidor
de pressão, um medidor de glicemia, alguns remédios, que é que se espera de um
médico? Milagres?
A razão da crise
O presidente da Volkswagen do Brasil, Thomas
Schmall, falando em Porto Alegre, mostrou um número significativo, transcrito
pelo bom blog de Fernando Albrecht (www.fernandoalbrecht.com.br): um americano com salário médio trabalha dez minutos para
comprar um Big Mac; um alemão, 16 minutos; um brasileiro, 42 minutos.
E é provável que EUA e Alemanha usem carne
brasileira.
Os saltimbancos
1 -
O presidente da Câmara Federal, deputado Henrique Alves, quer que Dilma
Rousseff reduza o número de ministérios de 39 para 25. OK, a ideia não é ruim.
Mas por que 25, e não 23, 27 ou 29? Por nada: ele gosta de 25, pronto. E deve
achar que o número de ministérios nada tem a ver com as necessidades do Governo
- tanto que cita o número sem qualquer estudo administrativo.
Será que Henrique Alves quer economizar dinheiro
público? Não deve ser isso, não: o jantar em que reuniu a bancada do PMDB, dia
16, custou R$ 28.400 à Presidência da Câmara. Foram R$ 355,00 por pessoa, sem
bebidas. Um esplêndido restaurante, como o Tatini, de São Paulo, não cobra nem a metade disso.
2 -
O prefeito de Paulínia, SP, Édson Moura Jr., do PMDB, tomou posse e anunciou
imediatamente o Passe Livre na cidade. A passagem custava R$ 1,00.
Será que o prefeito fez questão de ouvir a voz das
ruas? Não deve ser isso, não. Já nomeou a madrasta, Regina de Mattos e Moura,
secretária da Promoção Social. Talvez retribuindo a bondade do pai, Édson
Moura, candidato à Prefeitura barrado por não ter a ficha limpa. Moura, na
véspera da eleição, renunciou à candidatura em favor do filho. Como não havia
tempo para registrar o nome do novo candidato, Moura Jr. se elegeu usando o
nome do pai. Em seguida nomeia a esposa do pai. Gratidão é uma virtude. Pena que
com dinheiro público.
Trabalhadores do Brasil
O Congresso já está de férias. Pela Constituição,
não poderia: descanso, só depois de aprovada a Lei de Diretrizes Orçamentárias.
Mas, com aquele ritmo de trabalho escravo imposto a Suas Excelências, não houve
tempo sequer para exame do tema na Comissão de Orçamento. Mas como agir para
buscar as bases, ouvir seus eleitores?
Simples: em vez de entrar em férias, Senado e
Câmara decidiram que não haverá sessões até 31 de julho. Se não há sessões,
como comparecer às sessões? Há gente para quem tudo o que é complexo fica
simples.
Bosque finito est
Que o papa Francisco, como dirigente espiritual da
maioria da população brasileira, seja recebido com todas as honras e
deferências, respeitando-se não apenas sua liderança religiosa e o posto
supremo que ocupa, mas também suas inequívocas qualidades pessoais. Que o
Governo se empenhe em oferecer-lhe as melhores condições para sua pregação; que
os não católicos, mesmo os mais radicais, o tratem no mínimo com a hospitalidade
devida aos visitantes.
Mas a Igreja Católica poderia ter-nos poupado a
bobagem de derrubar 334 árvores em Niterói, RJ, para facilitar a realização da
missa campal durante a Jornada Mundial da Juventude. Árvores com cem anos de
vida não se repõem de uma hora para outra; e mexer com árvores exige
autorização da Secretaria Municipal de Ambiente, que não foi sequer solicitada.
Se o papa souber, não vai gostar.
Deixa pra lá
O deputado Marcos Feliciano, do PSC paulista, quer
que Dilma vete parte da lei que obriga o SUS a atender mulheres que sofreram
estupro. Besteira dele: é preciso cuidar das vítimas de acordo com a orientação
médica, e Feliciano não é médico. É melhor ignorá-lo: não o ajude a garimpar
votos fundamentalistas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário, fique à vontade para criticar e sugerior. Denúncias podem ser enviadas para louremar@bol.com.br ou louremar@msn.com