Vale a aposta
O
caro leitor acredita que a denúncia de formação de cartel para superfaturar
equipamentos do Metrô paulistano (e, eventualmente, de outros metrôs e trens de
transporte urbano espalhados pelo país) será investigada a fundo, com
seriedade? Este colunista aposta uma gravação de The Sound of
Silence, com Simon e Garfunkel, contra o Blowin’ in the
Wind, versão Eduardo Suplicy, como não será.
O Brasil é um país curioso. Já condenou um
intermediário de distribuição de propina, PC Farias, sem identificar nem os
pagadores nem os recebedores. Já condenou um grupo de políticos e empresários
no caso do Mensalão, em última instância, mas a última instância aqui não é a
última, porque cabe recurso. Por que não criticar duramente os corruptores
(sem, naturalmente, puni-los) e deixar de lado a investigação a respeito dos
corrompidos? Esse tipo de investigação é tão brasileiro quanto a feijoada, a
goiabada com queijo e a pizza à portuguesa.
E, cá entre nós, quem vai atirar a primeira pedra?
Alguns mamutes empresariais são os grandes financiadores de campanha dos
maiores partidos; e os partidos que não recebem se calam, à espera de sua hora
de glória. Há algum tempo, uma operação da Polícia Federal acertou o centro do
alvo: descobriu-se quem pagava e quem recebia. Mas, por falta de informações,
todos saíram ilesos. Construções de areia são frágeis na praia. Na vida real,
são uma fortaleza, um sólido castelo.
Petistas e tucanos vão se xingar, uns acusando os outros.
Mas sabem que investigação em excesso, como remédio em excesso, faz mal para
todos eles.
Internacional, e daí?
O caro leitor também não deve se impressionar
muito com a corrupção investigada no Exterior. A Suíça provou que dirigentes da
FIFA receberam propinas milionárias, mas não aconteceu nada porque isso não era
ilegal. O máximo que aconteceu foi a antecipação da aposentadoria para
dirigentes com mais de 80 anos de idade (antes, quem decidia a data da
aposentadoria era uma Vontade mais alta). Os demais continuam por lá, mandando
muito.
Bernie Ecclestone, da Fórmula 1, enfrenta
acusações pesadas. E continua lá, mandando muito, aos 82 anos. Talvez ele
também se aposente. De qualquer forma, a punição é mais severa que a
brasileira. Aqui o pessoal metido em bandalheiras nem aposentado é.
O risco nacional
De acordo com a Justiça alemã, a Siemens pagou 8
milhões de euros, menos de R$ 25 milhões, a funcionários públicos brasileiros.
O risco que esses funcionários correm é de ser
punidos por dumping: cobraram abaixo do mercado.
Batata quente
A decisão do Supremo Tribunal Federal, de ordenar
a prisão do senador Ivo Cassol (PP de Roraima) sem cassar seu mandato, deixando
que o Senado cuide disso, é esquisita: abre campo para que um parlamentar se
mantenha no posto, mesmo na cadeia. Mais: o ficha-suja não pode se candidatar,
mas mesmo condenado e preso pode manter o mandato.
Talvez seja um ato de astúcia política do Supremo:
se o Senado não se mexer, a situação esdrúxula poderá provocar revolta na opinião
pública. O Senado terá de assumir a responsabilidade de afastá-lo.
É coisa nossa
Esta coluna, hoje, trata apenas de peculiaridades
brasileiras. Por exemplo, a Polícia Federal entrou na casa de Sérgio Nogueira
Seabra para uma busca e apreensão. O detalhe é que Sérgio Nogueira Seabra é
secretário de Prevenção da Corrupção e Informações Estratégicas da
Controladoria-Geral da União, CGU.
É notável: é a Polícia querendo recolher provas de
corrupção na residência do responsável pela Prevenção da Corrupção de uma
entidade cuja função específica é verificar se os altos funcionários do Governo
andam na linha. O ministro-chefe da CGU, Jorge Hage, nem esperou o resultado da
ação: diz que Seabra é inocente.
Mais coisa nossa
E a entrega dos dados do Tribunal Superior
Eleitoral a uma empresa privada, a Serasa, controlada por um grupo estrangeiro,
a Experian? Ninguém sabia de nada! O convênio prevê a entrega à Serasa-Experian
dos dados de 140 milhões de eleitores brasileiros. A presidente do TSE,
ministra Carmen Lúcia, suspendeu o convênio até que seja examinado pela Corte -
o que indica que não tinha sido examinado, e que a presidente do tribunal ou
não sabia do que se tratava ou achava que tudo bem, mas de repente a má
repercussão fez soar o alerta.
De qualquer modo, houve uma mudança importante nas
circunstâncias, o que talvez torne o convênio impossível: essas coisas valem só
quando ninguém sabe delas.
No meio da rua
Mas, pensando bem, essas coisas já existem faz
tempo, todo mundo sabe delas e ninguém se mexe. No centro de São Paulo,
especialmente na rua Santa Efigênia, compra-se por R$ 30,00 um CD que traz
informações cadastrais de centenas de milhares de pessoas.
Devem ser informações verdadeiras. Fazer uma lista
de informações falsas só para vender nos camelôs custaria caríssimo.
Antes da hora
Mais coisas estranhas? O indiciamento do vereador
paulistano Andréa Matarazzo, do PSDB, no caso Siemens.
O caso ocorreu antes que ele fosse secretário.
Muito bom,informações importantes...
ResponderExcluirDarlan Caldas.