Do: blog do Josias de Souza
O
noticiário sobre o Congresso Nacional, por vergonhoso, deveria circular dentro
de envelopes pretos. Como não dá para envelopar o computador, convém adotar
certas precauções. Os adultos, responsáveis pela eleição dos congressistas, só
devem ler acompanhados de crianças.
Nesta
quinta-feira (5), desentenderam-se na Câmara o líder de Dilma Rousseff, Arlindo
Chinaglia (PT-SP), e o deputado Sebastião Bala Rocha (SDD-AP). Em visita à
Casa, estavam nas galerias três dezenas de alunos do ensino fundamental,
crianças de 10 a 12 anos.
A
garotada ficou sabendo por Chinaglia que Bala Rocha é um sujeito “desleal” e
teve péssimo berço: “Só quero dizer uma coisa para Vossa Excelência: graças à
minha formação, eu nunca fui algemado na minha vida”, disse o líder do governo,
evocando uma operação da PF, na qual o colega foi em cana sob suspeita de
desviar verbas públicas e fraudar licitações. Coisa de 2004.
A
meninada também ficou sabendo que, na opinião de Bala Rocha, Chinaglia é filho
de uma senhora que, tendo exercido a profissão de prostituta, lhe deu à luz sem
ter condições de apontar com precisão quem é seu pai. “Eu fui injustiçado, seu
porra!”, disse ele para o líder do governo antes de pespegar: “Seu filho da
puta!”
O
microfone foi silenciado rapidamente. Mas Bala Rocha não se deu por achado.
“Você é um grande vagabundo”, gritou para Chinaglia, recomendando que lembrasse
de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, os petistas condenados e presos
do mensalão.
Pouco
depois, o deputado Luciano Castro (PR-RR) escalaria a tribuna da Câmara para
ler a carta de renúncia do correligionário Valdemar Costa Neto (PR-SP), outro
mensaleiro recolhido ao xilindró nesta quinta. Na véspera, o líder petista José
Guimarães (PT-SP), irmão do preso domiciliar Genoino, discursara do mesmo
microfone para exaltar o condenado como um mártir.
Na
Casa ao lado, o senador Zezé Perrella (PDT-MG) discursava sobre os 442 kg de
cocaína que a PF apreendeu no interior do helicóptero de empresa de sua
família, pilotado por uma pessoa que estava na folha salarial do gabinete do
seu filho, o deputado estadual mineiro Gustavo Perrella (SDD).
“Cinquenta
manifestantes foram na porta da Assembléia jogar farinha”, disse Perrela, o
pai, queixando-se de um ato que teve o filho como alvo. “Estão querendo
transformar isso em evento político, na base da sacanagem com quem não merece.
Eu fumo cigarro. Mas meu filho nem isso! Ele não bebe —às vezes uma cervejinha,
no churrasquinho.”
Como
se vê, o Congresso Nacional torna-se cada vez mais um Poder duro de roer. Por
sorte havia crianças no recinto nesta sexta. A solução talvez seja reduzir a
maioridade eleitoral para cinco anos e proibir o voto para maiores de 18 anos.
Já está demonstrado que os brasileiros adultos não sabem o que fazer com o dedo
indicador quando estão diante de uma urna eletrônica.
Bem se ver quer o Congresso Nacional não é um lugar recomendado para a as criancinhas. Não é generalizando, mas o que tem de canalhas nesse Congresso não é brincadeira.
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