A audiência pública da Comissão de Saúde

Pareceu um comício? Pareceu. Mas o saldo foi positivo.

O relatório da Comissão vai mostrar ainda o quanto podem ter sido bem empregadas as diárias pagas aos deputados e assessores que se deslocaram de São Luis para Bacabal.

Quatro deputados da Comissão visitaram a cidade: Dr Pádua, Valéria Macedo, Vianey Bringel e Carlinhos Florêncio

A audiência pública realizada no auditório do Forum de Justiça reuniu muita gente. Gente obrigada a ir e gente que foi pela obrigação de dizer algo. A platéia se dividiu em duas: uma composta pelos servidores da secretaria de saúde e outra por populares sem vínculo com o município.

Na claque escalada pelo Secretário de Saúde certamente não estavam aqueles que reclamaram que passaram meses com seus salários atrasados. Todos estavam muito contentes e convencidos de que o sistema de saúde de Bacabal é uma excelência.

Ilton ensaiou para a campanha

Certo de que é o melhor nome para candidato a prefeito. Ilton deu uma performance. Atropelando as palavras o vereador aproveitou a ocasião e reclamou o fato de a Comissão ter anunciado a vinda com antecedência. Segundo ele, deu tempo para abastecer as farmácias dos postos de saúde “que não tinham um comprimido” e para “pentear” o Socorrão.

O vereador se refere ao fato da operação maquiagem feita no prédio do antigo pronto-socorro na rua Magalhães de Almeida.

Horas depois seria repreendido pelo presidente da Câmara. Publicamente Manoel da Concórdia condenou que um vereador tenha criticado a saúde da cidade. Realmente não é normal. Como ousou?

O povo do lado de lá e o povo do lado de cá

Para denúncias e debates, se inscreveram pessoas dos dois lados do auditório. Do lado dos servidores da saúde os inscritos só viram alegria. Do lado dos não-servidores, houve denúncia de cobrança no atendimento de saúde, mal atendimento, denúncia de agendamento de exames para 4 meses depois.

E assim transcorreu a reunião. Quando o povo do lado de lá falava, era aplaudido. Quando o povo do lado de cá se pronunciava ouvia-se os sussurros e o descontentamento. Informo que até pela posição geográfica em que fiquei no auditório, eu estava bem perto do povo do lado de cá, dos não-servidores. Eu e boa parte dos amigos da Imprensa.

O secretário Lilio Guêga

Lilio Guêga, acuado, não tem costume de ser contrariado. Era a imagem de um homem incomodado. Diante da colocação de que o município recebeu somente este ano R$ 10. 686.994.54, disparou que isso é errado. Não se deve dizer somente quando o município recebe, mas também quanto gasta. Mas quem é que tem mesmo a obrigação de dizer?

Ao explicar os gastos. Disse que só de folha de pagamento foram consumidos quase oito milhões desse dinheiro. Está explicado o motivo dos servidores estarem tão satisfeitos.

Carlinhos Florêncio na berlinda

Alguns questionamentos lembraram o hospital Bom Pastor. De propriedade da família do deputado Carlinhos Florêncio, o hospital está fechado. Os questionadores veem nisso um absurdo. Deveria reabrir para ajudar na saúde do bacabalense, disseram.

Poderia ter sido pior

Deu pra perceber isso quando falou o ícone da Caib, Manoel de Jesus, aquele mesmo que inflamado chamou Jura Filho de ex-deputado, no auge da suas últimas semanas de mandato. Ele assumiu que tinha chegado para a audiência levando várias faixas com palavras de ordem contra a Comissão mas que diante da intervenção do presidente da Comissão que solicitou a retirada de dois partidários de Ilton com cartazes, mudou de idéia.

Não falou para quem ficou o prejuízo da confecção das tais faixas.

Tapando o sol com a peneira

O prefeito Lisboa foi representado pelo procurador do município, Rogério Alves. Ele conhece bem o assunto. Numa audiência pública realizada há 3 anos, quando foi fechado o pronto-socorro foi ele um dos que mais defendeu o município e a “intenção” de fazer.

Foi ele que no final da audiência tentou desdizer o que a Promotora Karina Freitas havia afirmado, com o processo em mãos, de que a Administração de Bacabal nunca se preocupou em cumprir os compromissos que firmou com Ministério Público.

A promotora Karina Sales resumiu em frase sua noção sobre a saúde da cidade: “...a saúde tá do jeito que tá”.

Foi dela o parecer de que o Ministério Público não pode mais esperar pela execução da multa que hoje chega a 3 milhões de reais, imposta ao município por não ter cumprido o Termo de Ajustamento de Conduta que obrigava a Administração a reformar o Socorrão.

O processo foi repassado em cópia para a Comissão de Saúde.

Quem saiu vitorioso?

Como pareceu um embate, a audiência teve um “quê’ de disputa entre dois grupos políticos.Embora seja evidente que o deputado Carlinhos Florêncio não tem grupo. Seus partidários, fora a família, se colocados em um fusca, talvez ainda sobra espaço.

Em certo momento, diante do acirramento dos ânimos, o presidente da comissão – Dr Pádua – apelou aos deputados Carlinhos Florêncio e Roberto Costa para que controlassem seus partidários. Como afirmei, o deputado Roberto Costa não faz parte da Comissão de Saúde. Veio a Bacabal depois de um pedido de socorro do prefeito Lisboa.

Conversei com integrantes dos dois segmentos. O grupo do prefeito Lisboa acha que saiu vitorioso. Que conseguiu mostrar que em Bacabal a Saúde é gerida de forma exemplar. Entendem que os servidores que foram convocados para comparecer na audiência, conseguiram persuadir os deputados de que estavam ali representando uma população que está satisfeitíssima com o atendimento de saúde praticado na cidade. Depois da audiência, foram comemorar no clube do Saae. Só a cúpula. Os servidores foram descansar para trabalhar hoje cedo.

A assessoria do deputado Carlinhos Florêncio considera, segundo me informou, que o evento foi coroado de êxito. Os deputados cumpriram seu propósito de conhecer o atendimento de saúde e de colher as impressões da população sobre esse atendimento.

Para que serviu a visita dos deputados?

1. O prédio do pronto-socorro viu as obras serem retomadas. Ainda não passei por lá hoje para ver se os operários já receberam ordem de evacuar o local;

2. Pouquíssimas vezes o prefeito Lisboa é visto pela manhã na prefeitura. Ainda mais tão cedo do dia. Ontem ele estava lá cedinho esperando a Comissão. Ao contrário do que muitos dos seus assessores tentaram demonstrar, Lisboa deixou patente que os deputados tem importância sim. Ao lado da sua colaboradora Taugi Lago, ofereceu um café aos deputados.

3. Nunca o secretário de saúde se reporta a ninguém que o interpele. É conhecido pela sua truculência. Nem ao prefeito ele acha ser digno de se reportar. Mas ontem estava lá. Pode ter achado que perdeu o seu precioso tempo, durante a longa e cansativa audiência, mas não arredou o pé.

4. A promotora Karina Freitas pode ter a noção exata de como as autoridades municipais encaram o problema da saúde. Para eles está tudo bom. É preferível não discutir o assunto. A Promotora teve a oportunidade de ouvir o que o povo que procura o atendimento de saúde pensa a respeito. Quando a idosa ‘dona Beata’, do bairro Juçaral se pronunciou, acompanhei durante todo o tempo o encantamento da Promotora com a sapiência e eloqüência de uma pessoa humilde mas com maior consciência de cidadania do que muitos.

Leia também em: Deputados fazem visitas a hospitais de Bacabal