Quando os ricos e os poderosos precisam do Socorrão

Ao longo de anos temos visto uma situação de caos na saúde do Maranhão. Todos os dias dezenas de ambulâncias trafegam pelas estradas desembocando nos Socorrões da Capital.

Mas será que cada município poderia permitir que o sistema de saúde funcionasse bem para os seus cidadãos?

Não seremos levianos em afirmar que é possível tudo ao município. Mas é possível muito. E o que os administradores se permitem fazer é o pouqíssimo.

O Socorrão é visto como um local para atender a pobreza. Os mais abastados procuram hospitais que atendem seus planos de saúde. Mas isso é num Brasil diferente do nosso. Aqui o Sistema foi pensado para que todos dependam do poder público. Se houvesse responbilidade e critérios técnicos no trato da coisa pública, nenhum problema. Perguntar não ofende : quando é mesmo que vão tratar a coisa com seriedade?

Pouco adianta a qualquer pessoa no interior do Estado, vamos citar Bacabal como exemplo, ter um plano de saúde. Serve para exames de rotina, cirurgias eletivas, que permitam ao paciente tempo para se deslocar para São Luis ou Teresina.

Mas e na hora do piripaque, na hora da agonia? Ah, caro leitor, aí só resta o caminho da rua Maranhão Sobrinho, onde funciona o Socorrão, num arranjo feito para operar no hospital regional Laura Vasconcelos.

O que os nossos administradores não pensaram, nem haveria porque conceberem - já que se imaginam acima do bem e do mal -, é que não somente os pobres adoecem. Os ricos também sofrem mal súbito e acidentes. Nem sempre a doença espera. E nessas horas, um pronto-socorro é o caminho natural.

Vimos três exemplos nos últimos dias.

No dia 4 de outubro, a governadora Roseana desembarcou às pressas em Bacabal. Sofreu um mal-estar e foi socorrida pelo cardiologista Hidalgo Léda em sua residência. Esquivou-se de ir para o Socorrão. A Governadora é mantida informada pela sua assessoria, sabe o que encontraria lá. Felizmente seu mal-estar não se agravou.

Na mesma noite foi a vez do deputado federal José Vieira. Vítima de um infarto. Não tinha como ser levado para outro local. Foi parar no Socorrão. “Quem diria” pensaram os diligentes servidores. “E agora? tô frito!” deve ter tido de pensar o nobre deputado. Felizmente foi socorrido a tempo.

Há anos a Imprensa denuncia casos escabrosos ocorridos em nossa cidade. Há anos que o salário dos servidores é pago atrasado. Foi assim durante as duas administrações de José Vieira Lins e tem sido assim nas duas de Raimundo Lisboa. Juntos agora, nenhum dos dois pode apontar o erro para o outro. Felizmente o senso de responsabilidade dos servidores é maior do que a indignação, e eles trabalham com afinco num cenário que só eles conhecem, muito diferente daquele montado em dias de filmagem para os comerciais da TV.

Ao deputado Zé Vieira coube a resignação de seguir o mesmo caminho que vários bacabalenses percorrem todos os dias. Dentro de uma ambulância, foi parar em São Luis. Sorte sua é que, diferentemente dos cidadãos comuns, foi para um hospital particular e não aventurar uma vaga na fila dos Socorrões.

No dia 19 de outubro foi a vez do vereador Serafim. Colhido por uma moto em frente à mansão do prefeito Lisboa, sofreu fratura exposta na perna. Socorrido, recebeu o mesmo tratamento básico. Apesar do ortopedista Gilvan Leão ter chegado no momento, optou-se por mandar Serafim estrada afora. Dentro de uma ambulância deve ter tido tempo de refletir sobre seus pronunciamentos na Câmara como líder do Governo. Teve tempo de conjeturar como seria se tivéssemos uma equipe com especialistas e equipamentos em operação no pronto-socorro.

Espero eu que os episódios tenham servido de reflexão. Nos três casos, os protagonistas poderiam ter sofrido algo pior. Os três casos serviram para mostrar que não é somente pobre que adoece e passa mal. Se não pensaram na saúde do povo até agora, elejam esses casos como norteadores deum novo pensamento. Pensem em si, em seus familiares, qualquer um deles pode, a qualquer momento, precisar deum pronto-socorro equipado e com equipe médica com salários pagos em dia.