Do: blog do Josias de Souza
A banda
sublevada do PMDB promete para esta terça-feira (6) a divulgação do seu
“manifesto” inaugural. Informa-se que a peça carrega as assinaturas de 45 dos
76 deputados do partido. A intenção dos idealizadores é a de converter a revolta
num movimento de autoafirmação.
O blog
conversou com um dos políticos que ajudou a riscar o fósforo que acendeu o
pavio da sublevação. Sob a condição de que seu nome fosse preservado, falou com
franqueza sobre as razões do motim. Vão abaixo, entre aspas, as explicações:
1. A
coalizão:
“Percebemos que, no governo Dilma, o coalizão ficou vesga. Antigamente, o PMDB
era chamado por vocês da imprensa de fisiológico. Mas tinha os cargos. Hoje,
continuam chamando o partido de fisiológico e quem tem os cargos é o PT.
Queremos inverter esse jogo. Vai ficar claro que nosso movimento não é por
ministérios. Pedimos respeito, não cargos”.
2. A
crise geracional: “Nosso
manifesto é um primeiro grito de alerta. O PMDB perdeu, faz tempo, aquela aura
de resistência contra a ditadura. A nova geração percebe que as lideranças que
tinham prestígio para impulsionar as eleições em seus Estados envelheceram.”
“Vem
agora a disputa pelas prefeituras. O PT construiu um projeto hegemônico. E fica
o PMDB tendo de arranjar recursos para cooptar uns partidecos em troca de 30 ou
40 segundos de tevê. Nosso pessoal começa a perceber que o futuro se estreitou.
E todo mundo fica angustiado.”
3. A
ausência de projeto: “Essa
nova geração do PMDB percebe que precisa de um projeto nacional para se
viabilizar. Se, hoje, o PMDB tivesse um grande nome para encarar uma eleição
presidencial essa merda explodiria. Todo mundo percebe o que está acontecendo.
É tudo muito claro.”
“O PT,
para o mal ou para o bem, tem na reeleição de Dilma o seu projeto. O PSDB,
frágil ou não, tem em Aécio Neves sua alternativa. E ficam os demais partidos
girando na órbita desses dois astros. Sobrarão para o PMDB, outrotra grande
partido, as migalhas do processo. Com o tempo, vamos acabar virando o DEM do PT.”
4. O
efeito São Paulo: “O
Michel [Temer] lançou o [Gabriel] Chalita. A gente vê Lula sair da sua doença e
vir ao Planalto exclusivamente para lançar o Fernando Haddad à prefeitura de
Sao Paulo, com o Michel do lado dele. Vemos a Dilma dar o Ministério da Pesca
para o partido do senhor [Marcelo] Crivella apenas para ajeitar as coisas para
o Haddad.”
“De
repente, o [José] Serra entra na briga. E fica o Lula a dizer que, se o PMDB
não apoiar o Haddad, o Michel pode não ser o vice em 2014. Ora, por que o Lula
tem o direito de inventar um cara com 3% e nós não podemos manter o nosso, que
tem 7%?”
“Cito São
Paulo porque é o caso mais emblemático. Isso se repete país afora. O PT não
abre mão de nada. Onde eles podem, nas cidades maiores, passam o trator. O
Michel soube da nomeação do Crivella pelo Google. Um assessor viu na internet e
avisou. Por que deveríamos apoiar a nomeação de um ministro que não sabe o que
é minhoca e anzol? Para enfiarem a minhoca na gente?. Isso já cansou.”
5. O meio
e o fim: “Nosso
manifesto não é voltado apenas para o governo. O objetivo central é sacudir a
direção do PMDB. O governo faz o que acha que deve fazer. Nós precisamos dizer:
não pensem que vamos levar essa situação, do jeito que está, até 2014”.
“Esse
jogo é conhecido. Numa eleição meio, como a de 2012, o PT engole todo mundo e a
Dilma diz que não vai aos palanques para evitar o confronto. Quando chegar
2014, a eleição fim, eles atropelam sem cerimônia. E o PMDB, saindo menor de
2012, chegará a 2014 de joelhos. É contra isso que nos debatemos.”
6. A
perda de importância: “Um
partido que tem como projeto de poder eleger o Henrique [Eduardo Alves] para a
presidência da Câmara não pode ser chamado de partido. Fizemos o
vice-presidente da República imaginando que o PMDB teria um upgrade. No
fim das contas, perdemos importância.”
“A Dilma
sonega ao Michel até a cortesia de um aviso sobre a nomeação de um ministro. O
papel do nosso vice ficou reduzido a participar de eventos oficiais. Outro dia,
foi segurar o caixão das vítimas do incêndio na Base da Antártida. É pra isso
que servimos?”
7. O
estilo Temer: “Para
se fazer respeitar, o Michel teria de se afirmar. Do jeito que as coisas vão, é
preciso mandar um recado: olha, Dona Dilma, ou a situação toma outro rumo ou a
senhora não vai poder viajar nem pra Bolívia. Algo que o Michel, pelo estilo
dele, jamais vai fazer.”
8. Cúpula
por fora: “A
gente lê nos jornais que o Henrique e o Michel, informados sobre a existência
do manifesto, resolveram transformar o documento em iniciativa de toda a
bancada da Câmara. Conversa fiada. Eles não sabiam do manifesto. Não receberam
cópia. Essa conversa toda é como a história do malandro que sabe que vai cair e
deita.”
“Não se
trata de um movimento contra o Michel. Ao contrário. Ele é tratado no manifesto
como nosso vice. Não informamos porque sabíamos que ele, com o jeitinho dele,
queimaria o apreço que todos lhe devotam para tentar abortar a iniciativa. Se
não attendêssemos aos apelos dele, pareceria um desafio à sua liderança. Até
para preservá-lo, preferiu-se não informar.”
9. O
sacolejo: “Num
primeiro momento, o manifesto vai provocar uma discussão interna, vai sacolejar
o partido. Serão fortalecidos os grupos que estavam descontentes e evitavam
manifestar a insatisfação. Estamos pedindo um encontro partidário para abril.
Até lá, surgirão muitos fatos. Senadores que participaram da discussão vão
aderir.”
“Num
segundo momento, o debate terá reflexos na disputa pela presidência do PMDB,
que ocorrerá no início de 2013. Aquela propalada unidade que conduziu Michel
Temer à vice-presidencia da República está deixando existir. Agora, fala mais
alto a sobrevivência política de cada um.”
“Estamos
informando ao governo e ao PT que não aceitaremos mais ser tratados como
aliados de segunda classe. Não será em nome da candidatura do Henrique à
presidência da Câmara que vamos nos lascar. Ah, o Michel é o vice! E daí? Por
isso temos que engolir tudo calados? Não dá mais.”
“A rigor,
o recado serve também para os nossos. Liderança de bancada é função de
confiança. Os deputados estão dizendo ao líder que não aceitam ser tocados como
gado. Um documento com 45 assinaturas é sinal de que, havendo interesse, o
líder pode ser trocado a qualquer momento.”
10. Os
reflexos no plenário: “Pode
ser que ninguém explicite agora, mas esse movimento vai afetar, ali na frente,
os interesses do governo no plenário da Câmara. Vem aí o Código Florestal, uma
votação complicada. Virão outras. Todo movimento tem o seu timing.”
“Não
adianta fazer agora um manifesto de rompimento com o governo. Muitos até
desejariam. Mas, no momento, o importante é sinalizar a preocupação do partido
com um projeto nacional. Se isso não der certo, cada um vai buscar o seu rumo
quando os calos apertarem em 2014. Não dá para subir ao cadafalso entoando a
Marselhesa.”
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