A razão e a emoção
Ela está longe de ser uma senhora de modos suaves: é agressiva, trata mal os subordinados, é chegada a gritar com eles. Seu humor é inconstante: o mais que se sabe de suas atitudes é que está irritada, descontente, intratável. Entre os auxiliares que escolheu havia alguns que não eram capazes de nada, e outros capazes de tudo; entre o caso Erenice e hoje, foi obrigada a demitir um monte deles, muito mais pela capacidade do que pela incapacidade que demonstraram.
E, no entanto, a popularidade da presidente Dilma Rousseff continua em alta. Pega bem, no eleitorado, o jeito ríspido de tratar os subalternos (como dizia Samuel Wainer ao presidente Getúlio Vargas, em seus jornais ele atacaria o Governo, os auxiliares, jamais o chefe do Governo). A irritação da presidente contribui para identificá-la com o eleitor, também irritado com as coisas que acontecem. E, embora ela tenha escolhido seus ministros, embora os conhecesse de longa data do Governo anterior, ao demiti-los passa imagem de que está limpando o Governo. Como Jânio Quadros fez há cinquenta anos, passa a vassoura na sujeira.
Talvez o grande erro da oposição, cada vez mais magra, esteja na incapacidade de enxergar não apenas os fatos, mas a imagem que os fatos passam. O voto é mais emocional que racional. Sarney foi popularíssimo durante o Plano Cruzado, elegeu todos os governadores, menos um, e isso porque combateu os tubarões, falou mal da carestia e pôs só nos empresários a culpa pela alta de preços. Não é mau nem bom: é assim.
A oposição aprende ou cada pesquisa a surpreenderá.
Os donos da cidade
Oposição é um termo amplo. Paulinho, o cacique da Força Sindical, é do PDT, partido governista; mas está bravíssimo porque o Ministério do Trabalho não foi entregue à sua corrente, após o afastamento de Carlos Luppi.
Paulo Skaf, o cacique da Fiesp, é do PMDB, partido que é governista quando lhe interessa; mas, como patrão dos patrões, não pode deixar de reclamar dos juros (sempre altíssimos), das barreiras alfandegárias (sempre baixíssimas), da concorrência de produtos estrangeiros (sempre predatória).
Juntaram-se capital e trabalho - aliança que, desde os tempos de Mussolini na Itália, costuma dar maus frutos - e dezenas de ônibus fretados, largados no meio da rua, travaram o trânsito em São Paulo. Pela análise do economista Alexandre Schwartsman, lastreada em números (veja artigo Amargo regresso, no www.brickmann.com.br), as teses de Paulo Patrão e Paulo Forçudo estão erradas; o importante, porém, não é isso.
É a ideia que ambos têm de que são donos da cidade, que podem tumultuar o trânsito e os outros que se danem.
Respingos...
Sabe o livro da OAB nacional sobre a Ficha Limpa? Quem fez o prefácio foi o senador Demóstenes Torres.
... do...
Pode haver uma CPI sobre o escândalo Carlinhos Cachoeira, mas este colunista ficaria surpreendido. O DEM já levou uma traulitada; o PSDB não está gostando das tentativas de implicar no caso o governador goiano Marconi Perillo; o PT, além das lembranças do caso Waldomiro Diniz, tem em Goiás o deputado Rubens Ottoni, que pediu R$ 100 mil a Cachoeira para sua campanha; o PMDB não quer nada que atinja a empreiteira Delta, amiga do peito do governador fluminense Sérgio Cabral.
Demóstenes, tudo bem; mas cuidado com Cachoeira.
... Cachoeira
Lauro Jardim, de Veja, listou as três frases mais usadas sobre Cachoeira:
*Todo mundo conhecia o Cachoeira.
*Ele era um grande empresário da cidade.
*Em Goiânia todo mundo se conhece.
Mula sem cabeça
Segundo o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, as informações contra Demóstenes Torres não vazaram da Polícia Federal. "Garanto que não houve vazamento da Polícia Federal, que cumpriu rigorosamente seu papel. Um trabalho feito sob a luz do sol".
Então, vamos lá, em coro: "Nós acreditamos nisso!"
De papo pro ar
Sexta-feira Santa foi feriado nacional, por motivos religiosos. E há gente mais religiosa que os outros: juízes, por exemplo, encerraram suas atividades na terça, com toda a certeza preparando-se espiritualmente para o dia santo, e só voltam nesta semana. O Congresso não chegou a encerrar oficialmente as atividades, mas na quarta e na quinta estava deserto de dar dó.
Viagem marcada
Problemas entre Brasil e Espanha? Esqueça: o ex-presidente Lula promete ir a Barcelona em junho, se seus médicos lhe derem autorização, para receber o 24º Prêmio Internacional Catalunha, que lhe foi concedido "por suas políticas sociais e econômicas que colocaram o Brasil na vanguarda da globalização". O prêmio é concedido pelo Governo da Região Autônoma da Catalunha. Segundo o dirigente catalão Artur Mas, que preside o júri, "o prêmio é um reconhecimento do caráter pessoal de Lula na luta contra a pobreza e a desigualdade".
Lula deve fazer o possível para ir e ainda ganhar um brinde: assistir a um jogo do Barcelona.
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