Nós matamos Décio Sá | Blog do Louremar

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Nós matamos Décio Sá


Por: Regis Marques

Ainda estou em transe! Como sou muito passional a todo o momento me pego chorando. Não consegui dormir ontem, não almocei e só consegui comer um pouco no jantar. Meu estômago dá voltas, tenho náuseas e depois de tudo o que aconteceu, só tenho duas certezas:

1ª) eles não vão NUNCA me fazer ter medo.
2ª) eles não vão conseguir nos calar. NUNCA!!

Eu não vou ficar aqui tentando ensinar a polícia a fazer seu trabalho e dizer o que fazer para que peguem os assassinos do meu amigo, jornalista Décio Sá. Eles têm lá suas técnicas e, quando querem, chegam aos culpados. Também a mim não cabe fazer elucubrações para desvendar os motivos do assassinato do “detonador” – como ele gostava de ser chamado. Para mim ele está muito claro: seu trabalho profícuo, corajoso, determinado e leal aos princípios do verdadeiro jornalismo investigativo.

Décio trabalhava muito. Suas fontes eram preciosíssimas. E se engana quem pensa que elas vinham apenas de dentro do grupo político no qual gravitava tanto como amigo da governadora Roseana Sarney, do irmão dela, Fernando e do cunhado, Ricardo Murad, quanto pelo fato de ser empregado nas empresas da família Sarney. As fontes de Décio também vinham dos adversários na política da mesma família. No período em que atuei nos bastidores para combater o esbulho político que foi a eleição de Jackson Lago, montado no esquema de um bilhão de reais de José Reinaldo, não raro vi Décio atender na sala em que eu trabalhava, na Assembleia Legislativa, ligações de desafetos de seus patrões, como Roberto Rocha, Rodrigo Lago, etc. A agenda de contatos – e de fontes potenciais – de Décio era talvez mais completa do que a do Cerimonial do Palácio dos Leões.

Décio tinha lado e era fiel a esse seu grupo. E ai de quem disser para mim que jornalista deve ser imparcial. O extraordinário jornalista Ricardo Kostcho, que foi porta-voz do ex-presidente Lula, ensinou certa feita que “Jornalista, ao contrário do que a hipocrisia de muitos quer negar, também tem lado, time, partido, igreja, amigos, alma e coração. Não somos robôs da notícia. Nunca escondi o que penso e sinto. O leitor tem o direito de saber com quem está falando”. Se era fiel ao grupo Sarney, também o era no subgrupo que se digladia para suceder Roseana: estava com o ministro Edson Lobão e contra Luís Fernando Silva, que tem a simpatia de Jorge Murad, marido de sua patroa, Roseana. Nesse grupo Décio era visto com profunda antipatia, principalmente quando publicava informações sempre verdadeiras sobre a visão caolha de Luís Fernando fazer política. Nesse grupo, o porta-voz era seu colega de redação no EMA e desafeto pessoal Marcos D’Eça. Ambos trocavam acusações e, muitas vezes, ofensas, em seus respectivos blogs.

O brutal, covarde, insano e estúpido assassinato de Décio Sá, me deixou atônito, estupefato, chocado e revoltado. Mas não com medo. Eu não tenho medo de covardes. Eu tenho medo é de ser silente, conivente, cúmplice dessa escória que procura fazer fortuna roubando, corrompendo, matando pais de família e deixando órfã uma sociedade impotente e perplexa. Eu tenho medo é que continue vingando a posição daqueles que, detentores de deformidades de caráter permanente, se locupletam no poder econômico, crescem no submundo político e, comprando consciências e condescendências no Judiciário, sentem-se semideuses, capazes de dispor da vida de seres humanos que, com certeza, não são seus semelhantes.

Tenho certeza em que neste momento em que choro a perda de um amigo e o sério golpe na liberdade de Imprensa que há três gerações move e é tão cara à minha família, alguns dos que estão na agenda de Décio abrem garrafas de champanhe. São bandidos morais e, muitos, de fato.

Mas quem matou Décio não foram os dois bandidos de aluguel que o fuzilaram no dia do Santo Guerreiro, São Jorge. Não foram só eles e os mandantes. Há muita gente que ajudou a apertar o gatilho daquela pistola .40 e ceifou a vida de Décio.

O Governo do Estado ajudou a matar um cidadão. Embora palco de vários assassinatos, assaltos e acidentes violentos, a Avenida Litorânea não tem um policiamento ostensivo. O secretário de Segurança, que agora aciona sua tropa de elite para procurar os assassinos, não tem uma política séria e atuante de prevenção de crimes. São coisas do passado até as barreiras policiais que existiam nos retornos e nas áreas mais violentas da cidade.
Também apertou aquele gatilho a Prefeitura de São Luís, hoje entregue a um dinossauro político que não se deu conta que seu tempo é pretérito e que a instituição que herdou num golpe de estupidez política da população não é cabide de emprego para mimar sua filha e nem um cofre sem fundo onde o princípio básico é limpá-lo até onde puder.

Tivesse nosso alcaide acordado de sua iniquidade e mandado instalar câmeras de vigilância na Litorânea, a principal via turística de São Luís não teria se transformado na sucursal do inferno.

Também ajudou a detonar a espoleta daquela pistola a negligência e omissão de seus patrões: apesar de já ter sido vítima de uma ação balaia tresloucada e irresponsável comandada pelo ex-chefe da espoliada Coliseu Renato Dionísio, que apedrejou as instalações do Sistema Mirante, na Avenida Ana Jansen e, também, apesar da recente agressão a um de seus técnicos por um grupo de celerados filhinhos-de-papai, fato ocorrido na porta da empresa, a direção da Mirante jamais mandou instalar câmaras na área externa do prédio. É bem verdade que isso não impediria sua morte, mas poderia tornar mais rápida e mais fácil a identificação dos matadores de aluguel.

Por fim, ajudamos, também, todos nós que, entrando na máquina de fazer doido, essa disputa incessante por projeção social e financeira, incentivamos, estimulamos e abastecemos a corrida rumo ao topo sabe-se lá que quê. Décio, um menino negro e pobre “sem parentes importantes e vindo do interior” – como constava na sua página na internet -, tinha ambições inerentes à sua idade: queria ganhar dinheiro. Muito dinheiro. Queria ajudar a família e dar conforto e tranquilidade para sua mulher e dois filhos. Uma com 8 anos e outro ainda em gestação. Por isso foi usado por políticos, empresários e toda sorte de gente sem escrúpulos que massageavam seu ego enquanto o empurravam para o precipício, fazendo inimigos covardes que planejaram sua morte.

Décio morreu. Ainda tenho náuseas e nojo. Mas, permanece a certeza que os facínoras que pagaram pela sua morte – porque eram covardes para cometer eles mesmos o crime -, jamais calarão a nossa voz. Nem nos incutirão medo.

Que Deus o receba!

O texto abaixo foi escrito pelo jornalista Régis Marques. Ele publicou o texto no Facebook e depois foi publicado no blog do jornalista Itevaldo 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário, fique à vontade para criticar e sugerior. Denúncias podem ser enviadas para louremar@bol.com.br ou louremar@msn.com