A fúria das férias
Estudantes em férias, trânsito melhor, menos
manifestações com menos gente. Após a tempestade vem a bonança - mas quem disse
que a tempestade passou?
Talvez não tenha passado. Amanhã, quinta, há greve
geral marcada pelas centrais sindicais. A menos que fracasse, é confusão brava.
Pior: algumas centrais tentam criar uma figura nova na História, a greve geral
a favor do Governo; uma delas, a Força Sindical, age na direção oposta e prega
o quanto pior, melhor. O líder da central opositora, deputado Paulinho da
Força, do PDT paulista, ameaça gerar confrontos com as outras centrais, levando
cartazes "Fora, Dilma" às manifestações. Diz: "Nosso trabalho é
empurrá-la para o buraco". Como se fosse possível jogar uma presidente da
República no buraco sem que o país vá junto.
A Federação Nacional dos Médicos tem reunião de
emergência também amanhã, em Brasília, às 10 da manhã. O objetivo é protestar
contra o plano de importação de médicos estrangeiros, que nem precisariam
revalidar seus diplomas. A Federação pensa até, entre outras possibilidades, em
greve nacional de médicos.
Quem do Governo dialoga com os médicos? Gilberto
Carvalho, até agora o negociador, está fora; Gleisi Hoffman, da Casa Civil, e
Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, foram esvaziadas. O ministro da
Saúde, Alexandre Padilha, nem sabia da importação de médicos - uma ideia do
chanceler Antônio Patriota (sim,ele as tem!) Entretanto, como dialogar com
médicos sem pisar no ministro da Saúde? Patriota é o pai da confusão, mas a
burocracia o livra de pagar por ela.
Fio de bigode
Restaria, com prestígio oficial para negociar, o
ministro da Educação, Aloízio Mercadante. Mas às dez da manhã? Ele precisa de
tempo, depois de acordar, para aparar com perfeição, fio a fio, aquele bigode
que só falta encerar, e fazer cara de bravo (acreditem: longe de estranhos, ele
é afável, até parece normal).
Só assim Mercadante se sente apto a aparecer em
fotos, mais uma vez, perto da presidente.
Data-limite
E tudo tem de acabar até o dia 22, quando o papa
Francisco chega ao Brasil.
Que mundo!
Chico Buarque, o profeta, dizia que não existe
pecado do lado de baixo do Equador. Nem sempre os profetas acertam. Chico dizia
também que boi voador não pode. Só que, agora, se o caro leitor imaginar que
viu bois voando, é que viu mesmo.
Pois não é que índios entraram no STJ com ação
criminal por calúnia e difamação contra seu maior defensor no Governo, o
ministro Gilberto Carvalho? Os mundurucus o processam por ter dito que alguns
índios se dedicam ao garimpo ilegal de ouro. O mundo está tão esquisito que
Carvalho pode até ter razão.
Olhos e ouvidos
Se o Governo brasileiro se surpreendeu com a ação
da espionagem americana, está lamentavelmente atrasado. Um excelente livro de
1994, O Punho de Deus, de Frederick Forsyth, tem enredo de ficção, mas conta como
funcionava, alguns anos antes, a espionagem dos EUA. Descrevem-se os
equipamentos da época e usa-se a seguinte frase, a respeito do Iraque de Saddam
Hussein: "Se fosse dito, eles poderiam ouvir. Se se deslocasse, poderiam
ver. E, se soubessem a respeito, poderiam destruir".
O livro tem 19 anos e descreve o mundo de 23 anos
atrás.
Alckmin x caminhões
O governador paulista Geraldo Alckmin, do PSDB,
anunciou que os pedágios não seriam reajustados; e não anunciou, mas determinou
que os caminhões passassem a pagar pedágio também sobre os eixos suspensos, sem
contato com o solo. O truque não deu certo e os caminhões pararam em São Paulo.
Ao jogar para a torcida, eis o que os tucanos
mostraram: no transporte de carga em São Paulo, o custo do pedágio é de 30%. De
Ribeirão Preto a Santos, um caminhão com sete eixos paga R$ 950, ida e volta.
Três viagens por semana custam R$ 12 mil por mês. A prestação do caminhão é de
R$ 10 mil. Hoje, o pedágio já é mais caro que a prestação. Imagine com o
pedágio cobrado sobre os eixos suspensos.
Jogo para a torcida
O tal plebiscito de Dilma tem, entre seus temas
principais, o financiamento público de campanha - ou seja, o caro leitor terá
de pagar a campanha eleitoral de Suas Excelências. Só que o financiamento
público não é novidade: apenas, hoje, não é total. Mas os partidos políticos já
receberam, de janeiro a junho, R$ 147,1 milhões (no ano inteiro, a verba é de
R$ 294,2 milhões). O dinheiro sai do Fundo Partidário; em última análise, do
bolso daquele cavalheiro que o caro leitor vê no espelho ao barbear-se de
manhã.
Muito ou pouco? No ano 2000, diz o respeitadíssimo
portal Contas Abertas, o Fundo Partidário era de R$ 70,2 milhões. De lá
para cá, subiu 308% - certamente bem mais que os salários. Este é um dos
motivos da multiplicação de partidos no país (hoje, são 30): o dinheiro é
farto. Outro é o tempo de TV, que vale muito na hora da barganha. Pense no
líder de um partido pequeno, que não ocupe cargo eletivo. De que é que ele vive?
A escolha de Sofia
O atual presidente nacional do PT, deputado Ruy
Falcão, é candidato à reeleição. Seu principal opositor é o deputado Paulo
Teixeira. Lembra do filme?
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