Coluna do Carlos Brickmann | Blog do Louremar

domingo, 23 de janeiro de 2011

Coluna do Carlos Brickmann

"O dinheiro que se foi com a chuva"

Faz quase um século - mas, como diz o festejado cronista Ivan Lessa, o Brasil é um país que a cada 15 anos esquece o que se passou nos últimos 15 anos. Quando disputava a presidência com Armando de Salles Oliveira, o candidato José Américo de Almeida usava como lema a frase "Eu sei onde está o dinheiro". O que ele não sabia é onde estava a força. O ditador Getúlio Vargas deu o golpe, cancelou as eleições e ficou no Governo por mais onze anos.

Hoje há gente que sabe onde está a solução para evitar o massacre anual das vítimas das enchentes - mas, infelizmente, quem sabe onde está o dinheiro do Governo prefere gastá-lo em outras coisas. Luiz Antônio Barreto de Castro, secretário (de saída) de Pesquisas e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia, revelou agora que há dois anos foi planejado no Rio um sistema de radares para monitorar as chuvas, o nível dos rios, o risco de enchentes. Custo? Baixo: R$ 36 milhões. "Se gastarmos R$ 36 milhões neste ano, ninguém morre em enchentes no ano que vem" diz Barreto de Castro. "Não é mágica: a pessoa fica olhando os radares, vê a quantidade de chuva e pede à Defesa Civil que tire as pessoas de lá". As enchentes continuam, mas a população fica a salvo.

E quanto significam esses R$ 36 milhões? A presidente Dilma Rousseff autorizou gastos mais de 20 vezes superiores, R$ 780 milhões, para o início da reconstrução - mas as vidas já se foram. Em 2010, a União arrecadou R$ 806 bilhões. O dinheiro existe e sabemos onde está. Falta usá-lo com competência.

É de graça!

O Teatro Commune, de São Paulo, usa a criatividade: as primeiras 40 pessoas que lhe enviarem por e-mail (teatrocommune@commune.com.br) a mentira mais criativa ganham ingresso de graça para a peça O Mentiroso, de Goldoni. A ideia é ótima, mas há riscos: já imaginou 40 lugares do teatro ocupados por políticos?

Espere com calma

A presidente Dilma Rousseff promete propor a redução dos impostos sobre a folha de salários, para estimular o crescimento do emprego com carteira assinada. A alíquota sobre a contribuição previdenciária das empresas, hoje de 20%, cairia dois pontos percentuais por ano, até chegar a 14%. A ideia é ótima: há alguns anos (e isso não deve ter mudado), para pagar um salário líquido de 900 por mês, uma empresa tinha de tirar 2.200 de seus cofres. Este colunista jamais viu uma redução voluntária de tributos. Mas, enfim, para tudo há uma primeira vez.

As férias de Vaiddad

A informação é da assessoria do ministro da Educação, Fernando Haddad, e saiu na coluna de Ancelmo Gois, de O Globo: ele deveria tirar férias, mas em função dos últimos problemas nos exames resolveu continuar trabalhando. Está certo o ministro: e se, com ele em férias, tudo funcionasse direitinho?

Insegurança pública

A agressão do delegado Francisco Marino ao advogado Anatoly Magalhães, em São José dos Campos, SP, divulgada em primeira mão por esta coluna, deve ter consequências: por e-mail pessoal encaminhado no mesmo dia da publicação, a Secretaria da Segurança informa que o delegado titular da 1ª Corregedoria Auxiliar de São José dos Campos, Antônio Álvaro Sá de Toledo, comanda inquérito policial sobre o caso. Lembrando a agressão: o delegado, em excelente forma física, ocupou a vaga de estacionamento para deficientes em frente ao Fórum. O advogado, que se locomove em cadeira de rodas, protestou. O delegado agrediu-o então com golpes de coronha e de cano de sua arma, ferindo-o na cabeça.

E a explicação, então?

O advogado do delegado disse que ele estacionou na vaga de deficientes porque sua mulher está grávida. E desde quando gravidez é deficiência? Quem usa arma precisa ter equilíbrio. O delegado Francisco Marino terá equilíbrio?

O homem da imprensa

Thomas Traumann, jornalista vitorioso na carreira e bem conceituado, cuidará da assessoria de imprensa do ministro-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci. É uma boa notícia: Traumann nunca demonstrou tendência a controlar o noticiário.

A guerra do tapetão

O candidato derrotado à Prefeitura de São Caetano, SP, o petista Jayme Tortorello, não desiste: quer porque quer tomar o mandato do prefeito José Auricchio, do PTB, reeleito com 80% dos votos. Moveu três ações contra o prefeito, a Justiça derrotou-o, unificando-as. Perdeu a ação unificada. Promete recorrer. Como já tem ideia do resultado, diz que, perdendo no TRE, o Tribunal Regional Eleitoral, vai ao TSE, em Brasília. Tudo, menos aceitar que perdeu a eleição de lavada.

Leitor x leitor

Isu Fang, assíduo seguidor desta coluna, rejeita a ideia do leitor Emerson Barbosa, que propôs que os salários parlamentares fossem vinculados aos vencimentos dos servidores públicos. Fang, conhecedor profundo da realidade política, diz que a ideia é péssima: "Como esta turma não está nem aí para as finanças públicas, o que provavelmente iria acontecer seria um aumento brutal da folha do serviço público". Os impostos teriam de subir ainda mais para suportar a despesa.

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