Por Carlos Brickmann - Observatório da Imprensa
Culpem os culpados de sempre
Gente, como é difícil analisar uma crise nos meios de comunicação sem o vilão tradicional, o "zianqui"! Na Líbia, Moamar Kadafi põe a culpa na Al Qaeda, mas os partidários da ditadura líbia, em outros países, não põem a culpa em ninguém: o "zianqui" estão fora. Mas, por via das dúvidas, atacam os "estadunidenses" - outro nome que os antiamericanos adoram para designar o "zianqui" - por inventar uma luta na Líbia que, dizem, absolutamente não existe: é tudo fruto da invencionice da imprensa ocidental. Os sionistas ainda não foram responsabilizados, talvez por falta de oportunidade, mas a hora vai chegar.
O fato é que, enquanto isso, as crises do Oriente Médio são cobertas com competência por pouca gente, quase toda da grande imprensa, quase ninguém conhecedor do assunto nas agências noticiosas. Não sabemos ainda, por exemplo, quais forças tomaram o poder na Tunísia; nem quem luta pelo comando do Egito. Na Líbia, não sabemos sequer quem luta contra quem. A tentativa de atribuir propriedades ocidentais (conceito de Estado-nação, democracia representativa, distribuição equilibrada de poder entre as diversas etnias) a um Estado como a Líbia, onde as lealdades tribais e de clãs são mais fortes que qualquer clivagem política, não funciona. Lá, a potência mais ouvida, nos tempos do rei Idriss ou de Kadafi, que o derrubou, sempre foi a Itália, antigo poder colonial.
Vamos às perguntas: com quem estão os habitantes da Cirenaica, um antigo país que foi englobado artificialmente pela Líbia? A julgar pelo noticiário (quem domina que região geográfica), com a oposição. Os moradores da Tripolitânia, outro antigo país do Norte da África englobado pela Líbia, ou apóiam Kadafi ou não tiveram ainda condições de se manifestar contra ele. E há os clãs, como no Líbano, onde famílias como Chamoun, Gemayel, Geagea, Jumblatt e outras chegaram a ter milícias próprias e bem armadas.
Na Líbia, no momento em que este colunista escrevia, a luta continuava. Mas no Egito e especialmente na Tunísia a luta terminou faz tempo. Como se trava a disputa pelo poder após a queda dos dirigentes tradicionais?
Punido com a liberdade
Lembra do vereador Kirrarinha, que agrediu a repórter Márcia Pache na frente das câmeras, na cidade de Pontes e Lacerda, Mato Grosso? Lembre do caso: o vídeo da agressão está aqui.
Pois o vereador acaba de ser julgado e punido: foi condenado a passar um ano em liberdade. O caro colega leu certo: Kirrarinha foi condenado a um ano de detenção, em regime aberto. Isso significa ficar livre durante o dia e passar a noite numa "casa do albergado". Como esta casa não existe em Pontes e Lacerda, ele passará a noite em sua casa, mesmo, ou sabe-se lá onde. Aliás, Kirrarinha (ou Lourivaldo Rodrigues de Morais, seu nome verdadeiro) nem se deu ao trabalho de ir ao julgamento.
Lei é lei; se a lei o autoriza a ficar o dia em liberdade, OK. Mas os meios de comunicação vão deixar barato que ele fique solto também à noite, zombando da sociedade, desfrutando da impunidade que obteve apesar da condenação? Se lei é lei, a lei determina também que ele cumpra a pena. O acinte é tamanho que, desde a "punição", a repórter agredida vem recebendo ligações em seu celular, e quando atende só ouve a respiração do outro lado. O criminoso tem amigos, e eles sabem que ganharam o jogo, embora pareça que tenham perdido.
E a Censura existe
Já com jornalistas que querem publicar notícias verdadeiras a lei é dura. O juiz Antônio Carlos Campelo, da 4ª Vara Cível Federal do Pará, determinou ao jornalista Lúcio Flávio Pinto que deixe de publicar parte substancial das informações sobre o processo contra executivos do grupo jornalístico O Liberal, de Belém. Lúcio Flávio Pinto, diretor do excelente Jornal Pequeno, foi ameaçado de prisão e multa de R$ 200 mil. Por que? Porque o processo corre em segredo de Justiça. Só que não é Lúcio Flávio Pinto que vaza o processo: é alguém que está livre de ameaças. Ele faz apenas o que a Constituição garante, que é publicar sem censura prévia as informações que obtém. Garantir o sigilo é obrigação da Justiça, não do jornalista.
A coisa já foi pior: a primeira decisão do juiz simplesmente proibia Lúcio Flávio Pinto de divulgar qualquer informação retirada do processo. Depois,voltou atrás um pouquinho, e dividiu o processo numa parte que não pode ser divulgada e em outra que talvez possa. Mas isso não faz diferença: a liberdade de informar de qualquer jeito está sendo cerceada.
Este colunista entende pouquíssimo de Direito. Mas domina bem nosso idioma, e sabe que o nome do que fazem com o grande jornalista é censura.
O roquinrou da bola
Há muitos e muitos anos, O Estado de S.Paulo procurou traduzir para o português os termos ingleses do esporte que começava a apaixonar o país, o football association. O goal-keeper virou arqueiro (o Estadão não aceitava goleiro, porque goleiro vinha do inglês goal), os full-backs se transformaram em zagueiros, o half-backs passaram a chamar-se laterais, o center-forward é hoje o centro-avante. Até o nosso escanteio tinha nome em inglês, corner.
Que pena! Justamente a empresa guardiã das tradições jornalísticas toma a iniciativa de transformar a clássica Eldorado, um marco no rádio brasileiro, em Rádio Estadão-ESPN. E nem é ESPN: é, na pronúncia que gostam muito de usar, I-es-pi-en, bem à moda gringa. A gente torce para dar certo, mas não pode deixar de lamentar a destruição de uma grande marca.
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