Marcha de quarta-feira de cinzas
Foi bonita a festa, pá!, como cantava Chico Buarque. Mas hoje é o dia de lembrar das cinzas. O Brasil acolheu no Rio, como convidado especial, retribuindo a uma visita do presidente Lula a seu país, o ditador da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogogo, que está no poder há 32 anos (reelegendo-se periodicamente com porcentagens de pesquisas lulistas - a última, 97,1%). Na Guiné Equatorial, rica em petróleo, com a segunda renda per capita da África, 20% das crianças morrem por falta de comida ou tratamento médico. A taxa de mortalidade infantil beira os 85 por mil - bem mais que o triplo do Brasil, onde o índice já é muito ruim. Metade da população desconhece o saneamento básico. Mas Nguema conhece o lado bom da vida. Tem uma casa de US$ 35 milhões em Malibu, na California; seu filho, também Teodoro, ministro da Agricultura, encomendou um iate de US$ 350 milhões na Alemanha.
Para um governante como este, nada é suficientemente bom. Reservaram-lhe para o desfile das Escolas de Samba dois camarotes, que foram revestidos de tecido vermelho, e penduraram numa parede um retrato dele, gigantesco. Seus 50 convidados foram recebidos com champagne e caldinho de feijão, fora as bebidas importadas, salgadinhos, jantar, ceia e sobremesas habituais nesse tipo de evento. Uma poltrona especial, de couro branco, acomodou Sua Excelência.
Nguema já foi acusado até de canibalismo, mas tudo indica que é lenda. Para ele, parece suficiente devorar os bens, a fortuna e a esperança de seu povo.
"Aide-memoire"
É sempre bom registrar esses acontecimentos. Se mais tarde o tirano for derrubado, com a consequente revelação completa de suas atividades no poder, não haverá neste país nenhuma autoridade que se recorde de sua visita.
Assim é...
O vídeo em que a deputada federal brasiliense Jacqueline Roriz, do PMN, aparentemente recebe propina é de 2006, e só agora foi divulgado. É estranha essa demora: se o vídeo aparece em tempo, a filha do ex-governador de Brasília provavelmente nem conseguiria ser candidata, atingida pela Lei da Ficha Limpa.
...se lhe parece
Às vezes, este colunista tem sonhos a respeito do noticiário. Sonhou, por exemplo, com a possibilidade de o vídeo com Jacqueline Roriz ter aparecido agora para tumultuar o processo dos acusados no DEMsalão, o Mensalão de Brasília. Como deputada federal, o Supremo Tribunal Federal é o foro adequado para que seja julgada, se for o caso. Todos os demais acusados no caso do DEMsalão ganham, portanto, o direito de acompanhar Jacqueline Roriz no Supremo. Tudo o que foi feito até agora terá de ser refeito. E o tempo passa.
Sassaricando
Mas, por enquanto, tudo não passa de imaginação. Afinal, embora as imagens mostrem a deputada federal Jacqueline Roriz recebendo algum de Durval Barbosa, o da delação premiada, o presidente da Câmara, Marcos Maia, do PT gaúcho, ainda não tomou nenhuma providência - sequer enviou a denúncia à Corregedoria. Maia disse que pretende pedir informações ao Ministério Público.
Maia é um sábio, conhece a Casa que preside: se encaminhasse a denúncia justo no Carnaval, quem é que estaria trabalhando para recebê-la?
O país que o Governo vê
É preciso acompanhar a vida brasileira em tempo real para fazer um bom Governo. Talvez por isso a Presidência da República tenha reservado R$ 55 mil para comprar 30 aparelhos de televisão, com tela de cristal líquido, tecnologia Full HD e conversor digital integrado. As eliminatórias da Copa estão garantidas.
Esquerda sem Nobel
O padre belga François Houtart, 84 anos, o "Papa da Antiglobalização", ou "Papa Vermelho", candidato da Teologia da Libertação ao Prêmio Nobel da Paz, é descrito por Plínio de Arruda Sampaio, candidato do PSOL à Presidência nas eleições vencidas por Dilma, como "sacerdote cristão e marxista", cuja contribuição "para unificar duas forças que combatem pela justiça social" já seria suficiente "para merecer o prêmio", e ainda por cima amigo pessoal de Fidel Castro e grande animador do Fórum Social Mundial. Houtart confirmou ter desistido definitivamente de se candidatar ao Nobel. Motivo: foi descoberto que abusou sexualmente de uma criança - um garoto de oito anos, ainda por cima seu primo. Pior: estava hospedado na casa dos tios quando aproveitou a oportunidade. O padre Houtart diz que se arrepende muito do que fez - mas só se manifestou depois que a irmã do garoto violado fez publicamente a denúncia.
A devassa certinha
Sandy, a musa dos certinhos, certamente não é um símbolo da marca Devassa. Mas, exatamente por isso, a cervejaria conseguiu gratuitamente um volume de propaganda que seria impossível obter por outros meios. De qualquer forma, entretanto, não faz sentido discutir se Sandy pode ou não ser A Devassa. A discussão é outra: esperar que a cervejaria escolha como símbolo da cerveja os tantos devassos que ocupam cargos públicos - e ainda com nosso dinheiro.
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