Coluna do Carlos Brickmann | Blog do Louremar

domingo, 28 de agosto de 2011

Coluna do Carlos Brickmann

"Tá tudo dominado"

De onde sai a dinamite para explodir caixas eletrônicos? O excelente repórter Agostinho Teixeira, da Rádio Bandeirantes de São Paulo, identificou um dos caminhos: o presidiário conhecido como Bruno .50, que por celular comanda os negócios de uma cela na Casa de Custódia de Itaitinga, Ceará. Envia para todo o país, por R$ 3 mil a caixa com 400 bananas, pagamento contra a entrega.

O responsável pelos presídios do Ceará só se lamentou: não consegue evitar a entrega de celulares nas cadeias, nem seu uso. Tentou uma empresa chinesa para bloquear os sinais, não deu certo. Traduzindo, o tal Bruno .50- nome alusivo a um calibre de metralhadora antiaérea - está no melhor dos mundos: tem casa, comida, roupa lavada, tudo por conta do Governo; vive em segurança, protegido por nós de clientes que queiram eliminá-lo, sabe-se lá por que motivo; fatura seu dinheirinho sem despesas de infraestrutura. Talvez nem pague a conta do celular. E quem deveria coibir suas atividades limita-se às reclamações. Mas, puxa, se o responsável não consegue, por um ou outro motivo, cumprir suas tarefas, que se afaste e deixe o lugar para outro. Só que demitir-se não ocorre a Sua Excelência.

Será tão difícil assim controlar as atividades dos presos? Os presídios americanos nada têm a nos ensinar? Como é que se carrega uma bateria de celular, se não há tomada nas celas? Ah, sim: pode-se ameaçar a família dos carcereiros, se eles não cumprirem determinadas tarefas. Em outros países, pelo menos nos mais desenvolvidos, as coisas não acontecem assim.

É que ali não está tudo dominado.

Por trás da notícia

Muita gente estranhou a manutenção de salários superiores ao teto constitucional no Senado: os supersalários tinham sido reduzidos pela Justiça, por decisão da 9ª Vara Federal de Brasília, e quem recorreu para mantê-los foi o próprio Senado, que paga a conta - com o nosso dinheiro. Mas por que o Senado recorreu?

Simples: porque o presidente do Senado, José Sarney, PMDB do Amapá, é dono de um supersalário dos mais invejáveis. O teto de quem recebe do Tesouro, pela Constituição, tudo somado, é de R$ 26.700,00 mensais - salário de ministro do Supremo Tribunal Federal. Sarney recebe 62.284,11 por mês, segundo o ótimo portal Congresso em Foco. É mais que o dobro do que a Constituição permite - sem contar que, no Senado, fora mordomias, ganha 15 salários por ano.

O estupro, o silêncio

Um soldado de 19 anos foi estuprado por quatro companheiros, no banheiro de um quartel do Exército em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Ferido, o rapaz foi levado em sigilo para um hospital militar, onde ficou oito dias. Só no quinto dia a família foi informada da hospitalização, com uma história mal contada: disseram que o rapaz "sofreu um mal súbito", "numa atividade interna do quartel".

Um sargento denunciou o caso; a investigação corre sob sigilo. O caso aconteceu em 19 de maio e até agora a única repreensão foi feita à mãe da vítima, ameaçada de prisão "por insubordinação contra as autoridades militares". A subversiva queria obter informações confiáveis sobre a saúde do filho. O rapaz violentado também sofreu ameaça: "Tu vai se ferrar", disse-lhe um soldado.

O caso foi levantado pelo jornalista Igor Natusch, do portal Sul21, de Porto Alegre - guardem seu nome, porque o trabalho que realiza é impecável. E as autoridades? A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, declarou-se chocada - e chocada deve estar até agora, porque não se sabe de qualquer providência que tenha tomado. O então ministro da Defesa, Nelson Jobim, silenciou. O novo ministro da Defesa, Celso Amorim, também guarda diplomático silêncio. A presidente Dilma, cuja carreira se fez no Rio Grande do Sul, nada falou.

O rapaz violentado ainda vai acabar levando a culpa.

Roma, não

A presidente Dilma Rousseff disse que o Brasil não é a Roma antiga. Dilma tem toda a razão: a antiga Roma tinha corrupção, crueldade, luta incessante pelo poder, e lá o comportamento indecoroso era geral. Mas a Roma antiga deu certo.

Onde falta pão

Tudo bem, os salários são bons, são abundantes (mais de um por mês), as mordomias são boas, tem passagem aérea à vontade; mas o pão que falta ao Congresso é o pão eleitoral, aquelas emendas que o Governo não está liberando e que são essenciais para alimentar a base eleitoral de cada Excelência. E, em casa onde falta pão, a briga agora foi entre os senadores Humberto Costa, do PT pernambucano, e Mário Couto, do PSDB paraense. O tucano falou mal de Lula ("herança maldita"), e falar mal de Lula, para um petista, é crime de lesa-majestade.

Os dois só não se pegaram a socos porque a turma do deixa-disso interveio. E o petista ficou furioso, também, porque o tucano quer uma CPI. Para ele, TCU, CGU, Polícia Federal - tudo gente da casa - já investigam o suficiente, então para que uma CPI? Mas um dia, alguém ainda se pega a tapa no plenário.

Pelé é o que é

Comentário da jornalista Rosi Mallet a respeito das investigações da ditadura sobre Pelé: "A Polícia achava que ele podia ser subversivo, a esquerda achava que era reacionário. Todos estavam errados: Pelé era, como hoje, apenas o Rei".

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