O comandante militar do Nordeste, general-de-Exército Sampaio Benzi, não está fazendo uma intervenção branca no comando da 6ª Região, em Salvador. Na verdade, é uma questão de hierarquia, de cadeia de comando. Ele já deveria estar lá há muito tempo. Chegou atrasado.
Benzi, quatro estrelas, comanda toda a região e não importa que sua sede
seja em Recife. Ele tem de estar onde as coisas estão acontecendo, e elas estão
acontecendo na Bahia, onde policiais militares fazem motim, desafiando os
superiores, o Exército e as autoridades civis. As reivindicações são até
justas, os meios são inadmissíveis.
Sim, o comandante da 6ª Região, general-de-divisão (três estrelas) Gonçalves
Dias --que foi chefe da segurança de Lula no governo passado-- foi no mínimo
infeliz ao tentar imitar o estilo Lula e confraternizar com os amotinados, com
abraços e até um bolinho de aniversário. Não pegou bem.
O governador petista Jaques Wagner não gostou, o Planalto tomou as dores e,
de repente, todo mundo lembrou que o comandante do Nordeste tinha de estar lá.
Benzi, porém, não vai substituir e sim somar com o seu subordinado Gonçalves
Dias. A situação é considerada grave. Já imaginou se policiais militares e
soldados trocam tiros? E se a greve se alastra para o resto do país, como
parece?
O governo já tem problemas demais na Bahia, vê o fantasma de uma greve
disseminada de policiais se materializando e tudo o que não quer neste momento
é um confronto com as Foraças Armadas por conta de um general que achou que
sendo bonachão estava sendo democrático.
Os ministérios da Justiça e da Defesa negam que ele esteja sendo afastado e
haja intervenção. Em nota, liberada na noite de quarta, o Exército comunica que
Gonçalves Dias continua no comando da 6a. Região e das operações de garantia da
lei e da ordem na Bahia.
Um pepinaço. Lá com seu travesseiro, o general deve estar remoendo o fato de
o PT que hoje joga o Exército contra os policiais grevistas é o mesmo que alimentou o
monstro quando a greve era contra o adversário PFL-DEM, anos atrás.
No fundo, o que os milicos gostariam de dizer para os governos petistas de
Brasília e da Bahia é: "Quem pariu Mateus que o embale. Tome que o filho é
teu".
Mas milico cumpre ordem, segue a hierarquia e bate continência para o poder
civil. Ainda bem. Agora, é tomar o máximo cuidado e torcer para que as coisas
não saiam do controle.
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Eliana Cantanhêde é colunista da Folha e da Folha.com, é
colaboradora do jornal "Em Pauta" da Globonews e comentarista da
rádio Metrópole da Bahia. Lançou no final de 2010 o livro "José Alencar,
amor à vida", biografia do vice-presidente de Lula editada pela Sextante.
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