Por: Sandro Vaia
Por alguns meses, vamos ter que aprender a pronunciar o nome Cavendish, a ouvir gravações inconvenientes de diálogos inconvenientes entre o contraventor e seus clientes políticos, e ver a troca de bolas de lama entre os defensores do governo e da oposição.
Uma CPI é sempre uma grande catarse midiática e popularesca, porque as pessoas adoram ver a desgraça alheia desfilando diante de seus olhos, principalmente quando em cena estão ex-poderosos que até pouco tempo atrás posavam como pais da pátria ou empresários cheios de poder, grana e influência.
Cada um é algoz de sua vítima predileta: os petistas querem ver lá na cadeira do dragão, Demóstenes, Perillo, Leréia e qualquer oposicionista que seja capaz de fornecer um alívio de consciência a quem, desde o mensalão, tem sido obrigado a carregar sozinho a cruz da desonra.
Gostariam de ver na cadeira também o dono da Veja e o repórter que trocou 200 telefonemas com Cachoeira, na esperança de comprovar a existência de uma sinistra conspiração midiática, que naturalmente não existia nos tempos em que eles carregavam a revista debaixo do braço para exibir as denúncias contra os governos Collor e FHC.
Os oposicionistas, numericamente esmagados na composição da Comissão por força da quase insignificância numérica de suas bancadas, sonham em fazer barulho em torno de Agnelo Queiroz,o governador do DF, e das ligações entre a poderosa empreiteira Delta , campeã das obras do PAC, seu ilustre consultor José Dirceu e outras instâncias do governo.
Embora tenha ficado bastante claro que a criação da CPI não alegrou muito a presidente da República, ciente da veracidade do velho bordão de que um evento desses "sempre se sabe onde começa mas nunca onde termina", e que quem está no governo nunca tem a ganhar com seus desdobramentos, tomaram-se as devidas cautelas para que o trem não saia dos trilhos.
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Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de "O Estado de S.Paulo". É autor do livro "A Ilha Roubada", (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez.