A trajetória de quem já foi uma das maiores lideranças de oposição do Maranhão

Conceição Andrade e Washington Oliveira 

Muitos leitores têm me pedido que comente ou dê notícias de uma personagem que, no final dos anos 80 e início de 90, destacou-se dentre as lideranças de oposição ao grupo Sarney. Fiz um trabalho de pesquisa e, agora, com muita satisfação atendo à solicitação de meu público - leitor.

Essa liderança foi eleita deputada estadual Constituinte, em 1986, com 10.025 votos, e prefeita de São Luís, em 1992, com 137 mil votos, derrotando o hoje senador João Alberto (PMDB), no segundo turno. Junto com o ex-deputado federal José Carlos Sabóia, e os ex-deputados estaduais Juarez Medeiros e José Costa, hoje, respectivamente, professor aposentado da Ufma e Uema, promotor de justiça e juiz, e outras lideranças políticas cria o grupo “Nossa Luta” dentro do PMDB e, em 1988, fundam o PSB no Maranhão.

A personagem chama-se Conceição Andrade que, também, foi candidata da oposição ao governo do Maranhão, pelo PSB, em 1990, conseguindo amealhar 17% dos votos no primeiro turno, ficando atrás de Edson Lobão (2º colocado) e João Castelo (1º colocado). No segundo turno, o PSB de Conceição Andrade decidiu pelo voto nulo e seus eleitores migraram para a candidatura de Lobão, que derrotou Castelo.

Depois que deixou a Prefeitura de São Luís, em 1996, Conceição Andrade aliou-se ao grupo Sarney e, em 1999, foi Gerente Regional de Itapecuru, até ser convidada pelo então governador José Reinaldo Tavares, em 2002, para assumir a secretaria de Agricultura Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seagro).

Sua administração à frente da Prefeitura de São Luís foi considerada boa, embora tenha chegado ao final do mandato com problema de caixa, deixando duas folhas de pessoal sem pagar, e com o serviço de coleta de lixo em crise. As chamadas “feirinhas da Conceição”, que vendiam produtos hortifrutigranjeiros produzidos na Ilha de São Luís 30% mais baratos que os preços de mercado, foram uma das marcas de sua gestão.

Nas eleições de 1998, quando Roseana se reelegeu, no primeiro turno, para seu segundo mandato, na década de 90, Conceição Andrade disputou a eleição para deputada estadual, pelo PSDB, só alcançando, surpreendentemente , oito mil e poucos votos, dos quais somente cinco mil em São Luís.

Depois de realizar um trabalho fecundo como secretária do governador José Reinaldo, por muitos, à época, considerada uma das melhores e mais prestigiada secretária de sua equipe de governo, Conceição Andrade desincompatibilizou-se do cargo e disputou, mais uma vez, agora de volta ao PSB, as eleições para o cargo de deputada estadual, em 2006.

De novo, surpreendentemente, não se elege e obtém apenas 14.861 votos, ficando na segunda suplência, e tendo obtido menos de dois mil votos em São Luís. Sua maior votação foi em Itapecuru, com 1.400 votos.

No segundo turno da eleição de governador, mais uma vez, Conceição Andrade adere ao grupo Sarney e apoia Roseana, contrariando orientação do seu partido, o PSB, que decide apoiar Jackson Lago, candidato da Frente de Libertação do Maranhão, que ganha a eleição.

Até início de abril deste ano, Conceição exerceu o cargo de secretária de Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (Sedagro), no governo de Roseana Sarney. Seu desempenho nesses três anos é avaliado por fontes do governo como regular.

Vírus da traição ou vítima dos Sarney

Conceição Andrade se elegeu prefeita como a candidata apoiada pelo então prefeito de São Luís, Jackson Lago. Nas eleições de 1994, Conceição decide apoiar Cafeteira em detrimento do apoio à candidatura a governador de Jackson Lago. A partir daí Jackson Lago passa chamar Conceição de “vírus da traição” e rompem relações, que não consegui apurar se foram ou não restabelecidas. Ou seja, ambos deixaram-se contaminar pelo carrancismo político.

O saudoso jornalista Walter Rodrigues, quando do episódio de adesão de Conceição Andrade ao grupo Sarney, dizia que o maquiavelismo de Sarney conseguiu atrair e anular a liderança de oposição que, a época, mais lhe ameaçava. Tática que, segundo Walter Rodrigues, o mais perspicaz analista político da época, comparava àquela que se utiliza para matar moscas inconvenientes, ou seja, espalhar veneno adocicado ao redor de um pires para atraí-las.

Assim, o grupo Sarney conseguiu anular a liderança de oposição mais temida naquele tempo, Conceição Andrade, considerada tanto pelas lideranças da situação como da oposição como dona de um poder de oratória demolidor.

O jornalista Walter Rodrigues dizia que Conceição, por ter se bandeado para o grupo Sarney, teria perdido a identidade e jamais voltaria a conquistar um mandato ou porque o eleitorado de oposição a rejeitaria ou então porque ao grupo Sarney não interessaria vê-la brilhar e voltar a ameaçá-lo.

Hoje, nos bastidores da política maranhense, comenta-se que foi pedido o cargo de Conceição, que deixou o PSB mais uma vez e se filiou ao PMDB, para que coordene a campanha de Washington à Prefeitura de São Luís, componha com ele a chapa de vice ou saia candidata a vereadora.

Os fatos têm demonstrado que após a adesão de Conceição ao grupo Sarney as urnas não têm lhe sido favoráveis. Diante disso, indaga-se: Será que há interesse no grupo Sarney em dar um mandato à Conceição Andrade, quer de vice-prefeita ou de vereadora? O eleitorado de São Luís ainda votaria em Conceição Andrade? A história do Maranhão seria outra se Conceição tivesse se mantido no campo da oposição? Até que ponto Conceição assumiu posição de incoerência política? Conceição, hoje, paga o preço de ter se desvinculado da oposição?

Espero ter correspondido às expectativas de meus leitores ao apresentar essas informações duramente “garimpadas” junto a diversas fontes documentais e pessoais. Este espaço fica disponível para que Conceição Andrade, caso lhe aprouver, comente ou responda as questões aqui relatadas.