Por: Luis Fernando Veríssimo
Uma visita da tia Fifa causa
alvoroço nas famílias. Ela anuncia a visita com antecedência para a família se
preparar. Porque a tia Fifa é exigente. Quer que, quando chegar, tudo esteja
perfeito. E não aceita explicações.
Quando
chega, a tia Fifa passa o dedo nos móveis com luva branca, atrás de poeira.
Examina as unhas de todo o mundo. Procura sujeirinha atrás de todas as orelhas
e cheira todas as meias. Inspeciona as novas instalações que mandou construir
antes de chegar, de acordo com especificações rigorosas. E ai de quem reclamar.
— Tia Fifa,
nós somos pobres...
— Não
interessa. Pobreza não é desculpa para desleixo. A África do Sul també
m era
pobre e minha visita lá foi um sucesso. As instalações que mandei construir
ficaram lindas. Impressionantes, imponentes...
— E
imprestáveis. Dizem que eles não sabem o que fazer com as instalações que a
senhora deixou lá, depois da sua visita...
— Bobagem.
São belíssimas.
É
importante saber que a tia Fifa não é como é por insensibilidade ou elitismo
desvairado. Suas exigências, que parecem irrealistas, obedecem a um desejo de
ordem social e estética. A tia Fifa sonha com um mundo limpo, em que as
desigualdades entre ricos e pobres desaparecem desde que todos sigam as mesmas
regras e tenham o mesmo gosto, e por isso a convidam.
— Mas tia Fifa, o dinheiro que nós
vamos gastar para que a casa fique como a senhora quer não seria mais bem
aproveitado na educação das crianças, ou na...
— Isso já
não me diz respeito. Me convidaram e eu irei. Acabem as instalações que eu pedi
no prazo e ponham a casa em ordem. E mais uma coisa:
— O que,
tia Fifa?
— Você está
com mau hálito. Providencie.
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