A proximidade com o governo pode ter criado a falsa impressão de que Eike teria apoio do governo e acesso facilitado a recursos financeiros |
Da: BBC Brasil
O anúncio nos últimos dias de que a petrolífera OGX e a construtora naval OSX, do grupo empresarial EBX, de Eike Batista, entraram com pedido de recuperação judicial trouxe à tona uma pergunta que era pouco ouvida na época em que as empresas estavam no auge: como o brasileiro conseguiu convencer tanta gente de que seu império era sólido?
Entre os investidores internacionais que apostaram na OGX – carro-chefe da EBX – estão gigantes como Pacific Investment Management Company (Pimco) e BlackRock, duas das maiores empresas de gestão de fundos do mercado de renda fixa.
Esses e outros grupos experientes, ao lado de pequenos acionistas e de empréstimos como os do BNDES, financiaram os projetos de Eike baseados em projeções, antes que a OGX produzisse um barril sequer de petróleo.
Segundo o banco UBS, a empresa chegou a ter valor de mercado de US$ 22 bilhões. Hoje é estimada em menos de R$ 1 bilhão. Em 2010, o valor de suas ações chegou a ultrapassar R$ 23. Na semana passada, eram cotadas em torno de R$ 0,15.
Agora que ficou comprovado que a maioria dos campos de petróleo da OGX é improdutiva e que a empresa tem uma dívida calculada em torno de US$ 5 bilhões – sendo US$ 3,6 bilhões em títulos nas mãos de credores internacionais –, analistas tentam compreender como o mercado se deixou iludir.
Entusiasmo
Um dos fatores apontados é o clima de empolgação generalizada com a economia brasileira no final da década passada, quando ela vinha demonstrando bons resultados diante da crise mundial de 2008 e comemorava as descobertas de petróleo na camada do pré-sal.
Em junho de 2008, a revista britânica The Economist fez um perfil do empresário brasileiro com o título: "Imã de dinheiro: Eike Batista, a cara do boom de commodities do Brasil". A reportagem diz que a oferta pública da OGX levantou investimentos na ordem de US$ 3,6 bilhões - um valor semelhante ao obtido pelo gigante da internet Google em 2004.
Em 2008, a OGX havia sido criada há menos de um ano, possuía apenas cem funcionários, não havia começado trabalhos de perfuração ainda e não tinha nenhuma reserva de petróleo comprovada nos seus poços. Mesmo assim, os investidores continuaram atraídos pelo negócio de Eike Batista.
"A OGX pode até não precisar produzir petróleo algum para eles [os investidores] continuarem ganhando dinheiro. Mas se os resultados de exploração nos poços passarem do hipotético para o comprovado, Batista provavelmente passará a atrair grandes empresas de petróleo", afirma a reportagem.
A revista britânica também se mostrava empolgada com o carisma de Batista e a possibilidade de seu império rivalizar com a Petrobras.
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