Ricardo Lewandowski, Luis Roberto Barroso, Teori Zavasoki e José Dias Tofoli |
Por: J.R. Guzzo
O tribunal mais alto
do país resolve que um crime foi cometido e, passado algum tempo, decide que
esse mesmo crime não é mais crime – coisa incompreensível, no entendimento
comum, quando se leva em conta que o tal tribunal existe justamente para dar
sentenças que não podem mais ser mudadas.
Mas no Brasil não é assim que funciona, e por via
dessa mágica, três estrelas do mensalão, recém-condenadas pelo Supremo Tribunal
Federal por crime de quadrilha, não cometeram crime de quadrilha.
Nesse meio-tempo, o governo Dilma Rousseff substituiu
dois ministros que acabavam de se aposentar por dois nomes exatamente a seu
gosto, ficou com maioria de 6 a 5 no plenário e o que valia passou a não valer
mais. Desanimado? Talvez não seja o caso; não compensa comprar por 100 um
aborrecimento que não vale nem 10.
No fundo, esse último show encenado no picadeiro do
STF não quer dizer lá grande coisa. Problema, mesmo, é a lata de formicida Tatu
que o governo parece interessado em nos servir, em doses bem calculadas, no
futuro aí à frente.
Dirceu & cia. foram absolvidos do crime de
quadrilha? Sim, foram – mas e daí? Continuam condenados por corrupção ativa:
não é um certificado de boa conduta. Sim, o PT festeja – mas festeja o quê? Não
mudou nada no que realmente tem importância: três dos maiores heróis da Era
Lula estão liquidados para a vida política brasileira, pelo menos no grau de
grandeza que julgavam merecer.
Seu futuro morreu. Que diferença faz, então, saber se
vão cumprir X ou Y meses a mais de sua pena, ou onde estão dormindo? Se fosse
mantida a condenação, não iriam ficar muito mais tempo no xadrez, levando em
conta que todos os criminosos brasileiros, por mais selvagens que sejam, têm
direito a cumprir só um sexto da pena – mesmo gente como o casal de São Paulo
que matou a própria filha de 5 anos, jogada do alto do seu prédio.
De mais a mais, daqui a pouco todos eles começarão a
ficar velhos, o que é castigo suficiente para qualquer ser humano. A velhice,
como é bem sabido, não inspira muita pena, nem simpatia – e, uma vez que se
entra nela, não é possível voltar.
O verdadeiro perigo armado contra o Brasil se chama
Supremo Tribunal Federal, e o perverso sistema pelo qual os seus membros são
nomeados. Para simplificar: o STF deixou de ser uma corte de justiça. Hoje é um
amontoado de onze cidadãos dividido em grupinhos, cabalas e intrigas, com um partido
pró-governo e outro que se junta ou separa ao sabor das circunstâncias.
Há gangues inimigas – onde, justamente, deveria haver
esforço comum para a prestação de justiça. Suas Excelências têm, é certo, a
soma daqueles pequenos talentos que servem de combustível para subir na vida,
mas é só o que têm. O senso moral desapareceu na atuação dos juízes.
Como pode funcionar um tribunal supremo onde o fator
que determina as decisões não é a lei, mas o ódio individual entre ministros e
a obediência a doutrinas políticas? A situação já estaria suficientemente ruim
se ficasse assim como está. Mas pode ficar pior ainda, dependendo do sucesso
que tiverem no futuro próximo as forças que têm o sonho de rebaixar o STF à
condição de repartição pública, ocupada por despachantes encarregados de
executar ordens do governo.
Durante toda a vigência do Ato Institucional Nº5, a
ditadura militar garantiu o controle sobre o STF através das “aposentadorias
compulsórias” dos ministros que não obedeciam a suas ordens. Para que o trabalho
de fechar o Supremo, se ele podia ser controlado pela força armada?
- Hoje é possível obter o mesmo resultado, sem a
necessidade de usar a tropa – basta, com um pouco de paciência, ir colocando
nas próximas vagas ministros como Ricardo Lewandowski ou Luís Roberto Barroso,
Teori Zavascki ou José Dias Toffoli. Mas os novos juizes não teriam de
comprovar alto saber jurídico? Que piada.
Toffoli, advogado do PT, foi nomeado ministro do STF
depois de levar bomba em dois concursos para juiz de direito – provavelmente,
um caso único no sistema Judiciário mundial. Os demais, com ligeiras diferenças
que não alteram o produto, são nulidades.
Quando se aceita, como hoje, a ideia de que não é
preciso ter princípios nem valores morais na atividade de governar, tudo começa
a valer – e o resultado desse vale-tudo são aberrações como a “democracia da
Venezuela”, que tanto encanta Lula, Dilma e o PT.
Destruir o Supremo é destruir a pátria. País sem
Supremo é país sem lei, e país sem lei não é mais nada – apenas um ajuntamento
de gente submetida à vontade do mais forte.
Artigo publicado em edição impressa de Veja
Muito bom,muito mesmo.
ResponderExcluirDarlan Caldas.